Poema Visual – Experimentalismo: A Transitividade do V(ler)
O poema visual caracteriza-se por valorizar a imagem como entidade universal. A palavra, no caso, é muito bem explorada e colocada, compondo um todo harmônico capaz de permitir – àquele que lê e vê ou só vê – uma infinidade de leituras, de acordo com o nível do seu conhecimento, experiência de mundo, cultura e escolaridade. (HP)
Claro está que não é fácil aceitar situações novas ou conceitos ou roupagens novas para práticas antigas que remontam à própria história do homem e a sua necessidade de se comunicar com o seu semelhante.
Do primeiro grunhido humano à comunicação cibernética, o objetivo sempre foi um só: o desejo de se dizer algo a alguém se utilizando das mais variadas formas de escrituras.
Paul Valéry, escritor francês, dizia que “a forma custa caro”. Em todos os tempos, no fazer literário, a forma sempre custou caro àqueles que dela fizeram uso para criar e inovar, que o digam os antropofágicos poetas Gregório de Matos, Augusto dos Anjos, Oswald de Andrade e Mário de Andrade e os concretistas.
Inúmeras foram as revoluções da forma, mas nenhuma foi tão forte quanto as empreendida pelo movimento modernista. Do modernismo deriva o que hoje aí está como forma e experimentalismo: O Poema Visual.
Por que não aliar imagens a palavras, se a palavra já é, por si só, imagem. Convencional, é bem verdade, porque a ela estamos atrelados, familiarizados. Aliar palavras e imagens não é um privilégio do poema visual. A pintura, modernamente, já o faz, pois buscou nas raízes dos pintores primitivistas essa prática plástica.
Segundo um provérbio chinês “A imagem vale mais que mil palavras”. Nossos antepassados deixaram-nos sua história nas rochas das cavernas, em linguagem ingênua, mas plena de metáforas. A imagem atrai. Por que um filme conquista as pessoas? Qual magia prende o telespectador junto a uma TV ou faz um adolescente permanecer horas diante de um computador?
Sem dúvida a imagem atrai. O Poema Visual reflete a imagem poética da existência e do mundo. Fotografa o que está à volta do poeta.
Ver é o melhor remédio. A primeira leitura que fazemos do mundo para o qual chegamos é a do mundo das imagens. Ler é cultural, processo educacional. Está na necessidade de sobrevivência da sociedade através da escola. Ver é natural. Ler é aprendizado formal.
V(l)er tem sua síntese no Poema Visual, e este não surgiu por acaso.
Ele é, sem dúvida, fruto da evolução das diversas correntes literárias
que, ao longo dos tempos, estiveram sempre procurando uma forma
de ler e dizer o mundo, sem que a folha de papel permanecesse branca, ou ferida, sem comunicar algo para alguém.
Certifique-se o viajante, que saiba apenas o idioma de origem, ao caminhar pelos países da aldeia global e verá que a despeito da barreira dos idiomas, não terá problemas em transitar pelo mundo. Isso porque a humanidade fala, sobretudo, por gestos, sinais e expressões corporais; utiliza-se de figuras, desenhos e símbolos e outros vários recursos visuais.
O mundo e seu imenso horizonte oferecem ao viajante a oportunidade da caminhada. Ao artista, como caminhante e observador sensível cabe refletir, ousar e experimentar as tendências da comunicação e incorporá-las à sua arte.
Caminhar é colocar o poema em trânsito. Essa transitividade, como diz o poeta Márcio Almeida, é uniVERsalizante, sem viseiras didáticas; é expressar transitivamente, estabelecendo o encontro do poema e seu conteúdo com o leitor/participante sem a preposição para estabelecer a ponte entre a ação e a palavra. Poema é forma; poesia é sentimento.


Guerra e Paz – Constança Lucas – São Paulo – SP, 1991


visita à babel – Marcelo Dolabela – Belo Horizonte-MG, 1978


Poema Azul – Moacy Cirne – Rio de Janeiro-RJ, 1995


Jeanete- Kohler – Tempo Poema


canÁRIA – Márcio Almeida – Oliveira-MG, 2000


I/Letrado – Avelino de Araújo – Natal-RN, 1998


Hugo Pontes – Brasil


SOS – Paulo Bruscky – Recife-PE, 1977
Hugo Pontes, escritor brasileiro, 1945. Iniciou na literatura, junto com os poetas Márcio Almeida, Márcio Vicente Silveira Santos e Waldemar de Oliveira, criando o Grupo VIX de poesia de vanguarda inspirado nos poetas do Concretismo brasileiro. É formado em Letras/Língua Portuguesa e Língua Francesa e Respectivas Literaturas. Tem especialização em Literatura Brasileira. Atuou como professor durante 50 anos. Jornalista, colabora em diversos jornais, exerce atividades de pesquisa histórica de Minas e de Poços de Caldas, e relacionadas com a poesia, o poema visual; Tem 30 obras publicadas entre livros-solo e antologias Sua obra literária está voltada para o Poema Visual, desde o ano de 1969, quando participa do Movimento do Poema/Processo, liderado por Wlademir Dias-Pino. Em 1970 integra o movimento do Poema Visual, assim como da Arte Postal e do Livro de Artista. Entre suas obras, “Defesa de Tese: Poemas sem Fronteiras; em 2002; “Poemas Visuais e Poesias”, Ed. Annablume, 2007 e em 2ª edição.
Desde 1996 é um dos organizadores e curador da Mostra Internacional de Poemas Visuais de Bento Gonçalves-RS. Participa de exposições de Poemas Visuais e Arte Postal no Brasil, na Alemanha, Argentina, Bélgica, Canadá, Espanha, Estados Unidos, França, Holanda, Itália, Japão, México, Portugal, Turquia e Uruguai.
Mantém o sítio www.poemavisual.com.br Facebook, @poemavisualEXP