Cultura

Poema | Cristina Ohana

Cairão pedaços do meu corpo

cairão nacos 

pois, cairá toda a pele que você tocou

uma por uma perderei toda a suavidade que me resta

 

andarei atrás da borboleta roxa 

despedaçada, com teu nome de ouro na boca,

seguirei a sina da mulher desamada 

seguirei em dias de sol negro

 

minhas pegadas, poças de sangue

minhas lágrimas, dilúvio

a alma não cabe na palavra saudade

tem insuficiência de extensão 

 

ajustaremos as contas no dia do juízo 

quando chegarmos grávidos das sementes

e ali, na frente do Criador, dermos a luz

 

você parirá o natimorto 

e eu, o Messias.

 

(Esboço para livro nenhum, Lisboa, 2022)

 

 


 

 

Cristina Ohana tem dois livros publicados no Brasil pela Editora Penalux, “Fausto com Rugas” (pequeno romance filosófico) e “Pele dos Dias” (prosa poética). Publicou em Portugal “Grafia Canibal”, pela Poética Edições em Lisboa, 2020. Publicou também dois ensaios filosóficos na Revista Caliban, “Merleau-Ponty, genealogia da contaminação” e “Walter Benjamin, notações alegóricas”. Publicou o poema “Manifesto Lusófono” na Revista Nova Águia. É filósofa pela Universidade Federal de Santa Catarina.

 

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