Cultura

O antílope encantado | José Arrabal

(Conto inspirado em lenda do Congo, aqui publicado

em homenagem à memória do jovem trabalhador

Moise Mugenyi Kabagambe,

imigrante congolês barbaramente assassinado,

no Rio de Janeiro, este ano, pela violência fascista habitual 

do tempo criminoso de Jair Bolsonaro

no mando do Brasil) 

 

Há aqueles que asseguram ser verdadeira esta história, prosa bastante antiga contada de avô a neto em noite de passatempo nas aldeias dos povos das mais densas florestas da República do Congo. 

 

A bem da verdade, porém, tem igualmente quem diz que é trama de invenção este fato aqui narrado, tagarelice de gente que cria e conta história só por gosto de assustar para o acerto da vida. 

 

Em meio a tal controvérsia consta que o acontecido começou no amanhecer de um dia de sol quente, quando um homem lavrador das terras de um povoado de nome não mais lembrado percebeu sua lavoura, boa plantação de inhame, toda comida, pisada, mexida e remexida que nem depois da colheita.

 

– Maldito seja quem fez esse estrago em nosso inhame! – aos gritos excomungou sem de nada adiantar. 

 

Na ocasião um vizinho comentou que a maldade era obra de algum bicho, animal esfomeado, um elefante, talvez, que em plena noite escura fez o que fez e partiu após a terra arrasada. Acrescentou que o abuso podia ser, igualmente, desarranjo de macacos.

 

O irmão do lavrador que perdera a plantação reagiu e discordou das suspeitas do vizinho. Retrucou que elefante faz um barulho danado quando invade alguma terra e principia a comer o que encontra plantado.

 

– Ademais é animal que quase só vive em grupo, está sempre com a manada. E o que falar dos macacos constantemente agitados? Teríamos percebido o que se deu em silêncio calado na escuridão – argumentou com firmeza. 

 

Para ele, o desatino era um feitiço, um mal-feito de algum sujeito invejoso, tipo que torce contra, só deseja mal aos outros.

 

– Sobra gente assim no mundo. E, se é feitiço com praga, sempre pega, nunca larga, mesmo sendo praga injusta feito o crime cometido contra a plantação de inhame – insistiu em sua ideia.

 

O tio do lavrador, um ancião respeitado por sua sabedoria, agarrado à tradição, trouxe explicação diversa :

 

– Isso é trapaça de alguém que morreu há muito tempo e levou mágoa consigo. Agora volta disposto a nos perturbar a vida. Vem encarnado num bicho, porém age que nem gente – experiente, vivido, foi bastante convincente ao dar sua opinião. 

 

– No caso, o que fazer com a presença desse morto de espírito perverso? – por mais que alguém perguntasse, não tinha quem respondesse, nem mesmo o tio vivido.

 

Um aconselhava aqui, outro palpitava ali ou concluía acolá, sem justo esclarecimento que sossegasse o temor dos habitantes da aldeia.

 

Na noite do outro dia, sob a luz da lua cheia, conforme antigo costume fizeram sete oferendas em canto de orações para obter proteção dos antepassados bons e de deuses generosos. 

 

Daí armaram uma guarda com os mais seletos guerreiros, valentes que protegiam dia e noite as plantações. 

 

Assim foi por uma lua… por duas… até por três… e nada mais perturbou as lavouras da aldeia.

 

Na quarta lua entenderam que findara a ameaça.

 

Voltaram então a viver despidos de seus temores.

 

– Foi certamente o que eu disse… um animal desgarrado, algum bicho esfomeado. Chegou, comeu do inhame e daí seguiu em frente – reafirmou o vizinho.

 

O irmão do lavrador desta vez não discordou:

 

– É… até pode ser… um feitiço é que não foi, muito menos junto a praga, pois praga, se pega, gruda, não desaparece fácil – ponderou com o vizinho.

 

O tio pouco falou:

 

– Acho bom não distrair… – apontou a lua cheia dominando todo o céu e nada mais comentou.

 

Embora fosse querido, ancião muito estimado e sábio considerado, ninguém lhe deu tanto ouvido.

 

Despreocupados, dormiram.

 

O sossego terminou após três noites com a lua plenamente iluminada, quando chegou a vez do bananal aos cuidados de um outro homem da aldeia.  

 

Dava pena de ver. Todo comido, pisado, mexido e remexido que nem depois da colheita.

 

– Perdi as nossas bananas! Que tristeza! Maldição! – o lavrador atingido gritava desesperado.

 

O que perdera os inhames veio ao encontro do amigo:

 

– Isso não pode ser mera trama de algum bicho feito teima meu vizinho. Nem é feitiço com praga, pois praga não pega em dois com diferença de hora ou tanto tempo depois. Quem está certo é meu tio. Isso é trapaça de morto encarnado em animal perturbando nossa vida – comentou com segurança diante de todo mundo.

 

– E não finda por aqui o abuso do infeliz. Para desatar o nó precisamos descobrir o que deseja de nós essa alma atormentada que volta e meia aparece – daí completou o tio.

 

Claro está que foram feitas as precisas oferendas implorando proteção aos antepassados bons e aos deuses generosos. Claro está que muitos homens e os mais seletos guerreiros voltaram a vigiar dia e noite as plantações.

 

Com o tempo, veio a calma. Com a calma, a desatenção. Quem não se despreocupou, evidente, foi o tio do lavrador de inhame.

 

– De minha parte acredito que temos de estar atentos no passar da lua cheia. É lá que vive o perigo do morto que nos assombra, invade nossas lavouras – alertava aqui e ali sem que discordassem dele.

 

Verdade é que concordavam mais por respeito à idade, sua sabedoria, consideração devida. 

 

Verdade é que a cada dia, entre o nascer do sol e o descansar da lua, mais um desacreditava na repetição do caso. 

 

Crescia assim o descaso.

 

Cansados de nada ver e de nada acontecer, os mais seletos guerreiros cessaram de fazer guarda, proteger as plantações.

 

Veio outra lua cheia. E o tio foi ao sobrinho.

 

– Que horror! Que covardia! Cadê a sua coragem! Você perdeu os inhames e está aí parado, feito está sossegado o que perdeu as bananas. Trate de reagir, antes que outra lavoura seja também invadida! – falou com palavras bravas.

 

Sem vacilar na conversa, tinha planos, tinha ordens.

 

– Reúna, logo, alguns homens. Seu vizinho, seu irmão, lavradores e guerreiros. Quero armar uma tocaia para pegar de surpresa quem vem nos prejudicando. Nas noites de lua cheia ele há de aparecer para nos atormentar! – disse e foi obedecido. 

 

  Diante dos que chegaram, o tio acrescentou mais alguma explicação daquilo que pretendia:

 

– Sem desrespeitar o morto, se é mesmo alma de morto quem faz todo o farto estrago, precisamos descobrir o que deseja de nós. Daí, desatar o nó que amarra seu mistério e prende o pobre infeliz no mais terrível martírio. Libertar a sua luz da escuridão em que está vale bem mais que as lavouras que ele, feito animal, invade, mexe e remexe destruindo a plantação. É o que suspeito agora, depois de severo sonho que me chegou duas vezes.

 

Montaram guarda precisa com os mais seletos guerreiros. Portando lança e porrete estavam lá, nesse grupo, o lavrador dos inhames, seu vizinho e seu irmão, junto do lavrador que cuidava das bananas.

 

Além de armas nas mãos, levavam cordas e redes e também na consciência a mais justa advertência do velho tio vivido:

 

– É preciso ter cuidado ao aprisionar o bicho. Evitem qualquer abuso, violência desmedida. Se é mesmo antepassado, não pode ser machucado, sendo merecedor de atenção e reverência, pouco importa se faz mal agindo conforme age. Ferindo o animal atrairão maldição, desespero para a vida pacata de nossa gente – antes de ir dormir, três vezes bem avisou a todos que vigiavam as lavouras da aldeia.   

 

Por uma noite estiveram debaixo da lua cheia. 

 

Não distraíram um instante em mais completa atenção. 

 

O mesmo também fizeram na noite que se seguiu. 

 

Nada de nada ocorreu.

 

Foi na terceira noite que a trama se definiu. 

 

Justamente aconteceu em plantação de mandioca prontinha para a colheita.

 

No nascer da madrugada eis que lá apareceram três antílopes vorazes de tipo bem encorpado.

 

Chegaram sei lá de onde e invadiram a lavoura derrubando o mandiocal, cavando com suas patas todo o chão em que pisavam.

 

Não foram muito adiante. Viram-se logo cercados por homens do povoado. 

 

Ainda que acuados, dois animais escaparam, os mais ágeis, com certeza. Um terceiro foi detido, justamente o mais forte, não menos o mais ousado, pois não fugiu e enfrentou o cerco dos caçadores.

 

Perdido em sua ira, o lavrador que cuidava do bonito mandiocal, esquecido dos avisos contra qualquer violência, em abuso desmedido fez uso de sua lança alcançando o animal que, mortalmente ferido, tombou sem mais levantar.

 

Os mais seletos guerreiros, o lavrador dos inhames, seu vizinho, seu irmão e o homem que cuidava da lavoura de banana, no embalo do desatino do lavrador de mandioca, animados pela morte, que nem povo enlouquecido, com seus porretes nas mãos puseram-se a surrar o antílope já morto.   

 

Eis que então aconteceu o que ninguém esperava, nem sequer imaginava que iria acontecer.

 

Entre as tantas porretadas que recebia em seu corpo, mesmo abatido e morto, o antílope falou. 

 

Sua voz chegou a todos num só lamento de dor:

 

– Não faz o que faz comigo! Não faz o que faz comigo! Não faz o que faz comigo! – assim três vezes gritou com palavras cor de sangue. 

 

É o que sempre asseguram os que lembram desta história contada de avô a neto em noite de passatempo nas aldeias mais remotas das florestas do Congo.

 

Aos lamentos do animal, juntou-se uma outra dor. 

 

Veio também com palavras, expressão de desespero, dura e firme advertência: 

 

– Parem! Parem! Parem de vez com a maldade! Percebam o mal que fazem, pois trazem desgraça eterna para as suas famílias! – assim lhes gritou o tio do lavrador de inhame, aproximando-se às pressas do que então acontecia na lavoura de mandioca.

 

Ninguém porém soube ouvir a ponderação do velho que confirmou suas suspeitas e garantiu ser o bicho um antílope encantado, de certo algum ancestral que viera à aldeia para matar sua fome.

 

– Com ele estavam dois outros que escaparam de nós! É tudo animal do mato sem qualquer encantamento! – retrucou o seu sobrinho, até mesmo desprezando os lamentos do bicho pedindo misericórdia.

 

O tio se adiantou seguro do que dizia e a todos suplicava:

 

– Em meu sono, agora mesmo, chegou-me um terceiro sonho, severo feito os dois outros. Nesse sonho me encontrei com todos vocês matando esse antílope infeliz que aí se encontra morto guardando em sua carcaça o espírito sofrido de um avô de nosso avô. Foi o que me trouxe aqui disposto a pedir a todos para que cessem de vez com essa carnificina e peçam logo perdão ao ser que desrespeitaram – avisou com veemência.  

 

Os mais seletos guerreiros e os lavradores armados só trataram de rir diante da advertência e mais bateram no bicho todo sangrado no chão.

 

Porém, não riram por tempo, contidos pelo antílope que de novo fez-se ouvir:

 

– Não faz o que faz comigo! Não faz o que faz comigo! Não faz o que faz comigo!

 

Com sua justa coragem, certo do que fazia, o velho tio se pôs entre a maldade dos homens e o antílope encantado morto no mandiocal: 

 

– Cessem já com essa loucura! – aos gritos, ele insistiu. – Este animal veio a nós para matar sua fome, por ter vivido na aldeia em ocasião difícil de seca e vasta carência assolando as plantações, destruindo nossa gente! Agora em seu retorno só quer alguma alegria com a justa alimentação que lhe faltou algum dia! Não é bicho pra caçar! – entre lágrimas sentidas, repetiu o que sabia, estando também ciente de que falava em vão, pois suas sábias palavras não sossegavam a cegueira do desejo de vingança que invadira os corações dos homens no mandiocal.   

 

Claro que a bem da verdade quem conhece esta história, contada de avô a neto em noite de passatempo no interior do Congo, bem sabe que toda a gente costuma enlouquecer quando se entrega à maldade em desmedida caçada…

 

…que caçador, quando caça e ultrapassa a medida do que deve caçar para sua comida, traz na força dos braços a bocarra da morte caçando caça com cria, matando sem piedade, mesmo se o animal é criatura bonita que enfeita a natureza, mesmo se extingue a raça da caça que é caçada, mesmo se essa caça traz mistério no corpo, quem sabe algum mau agouro ou estranho encantamento… e caçador que é assim, procedendo desse modo, não tem jeito nem conserto, semeia dor onde anda agindo sempre com fúria e não há ponderação que sossegue o seu destino…    

 

…é o que bem se sabe… 

 

…que nessa hora da vida quem caça assim sempre age com muito mais crueldade do que serpente ferida ou elefante perverso de manada enfurecida, um leão esfomeado, um crocodilo cercado… 

 

…hora em que o caçador vira bicho-homem insano, um possesso matador… 

 

…foi o que aconteceu na madrugada infeliz com os homens daquela aldeia, com seus seletos guerreiros, mais alguns lavradores, caçadores do antílope na plantação de mandioca. 

 

Entregues ao desatino não ouviram o velho tio do lavrador de inhame, sua sábia advertência fruto da experiência que a idade lhe concedia.

 

Houve até quem debochasse de suas justas palavras:

 

– Esse velho está caduco! – alguém disse e outro riu da dita maledicência. 

 

Confirmando a irreverência, outro ainda acrescentou:

 

– Claro que está caduco! Onde é que já se viu desprezar a boa carne de um antílope caçado no ponto de ser cozido, grelhado, logo comido! 

 

– Por meu gosto tenho pressa de saborear o bicho e não há encantamento que me impeça de comer sua suculenta carne – mais um outro adiantou.

 

De novo o tio teimou, insistiu, advertiu, tudo certamente em vão, pois na dita ocasião guerreiros e lavradores no mandiocal reunidos, sem paciência na espera, agiam mais feito fera.

 

É o que conta esta história sem demora acrescentando que o tio apavorado retornou à aldeia, onde reuniu os homens, as mulheres e as crianças, a quem, sem nada esconder, revelou toda a tragédia daquela triste manhã.

 

A todos determinou que fizessem oferendas com cantos de orações implorando proteção aos antepassados bons e de deuses generosos contra qualquer maldição por conta da crueldade dos que haviam matado o animal encantado. 

 

Entre o temor e a fé, cantando canções sagradas, pôs-se o povo a orar.

 

Em seguida o velho tio do lavrador de inhame, mais o avô daquele que perdera o bananal e o avô do lavrador da lavoura de mandioca – anciãos esperançosos de evitar o pior – às pressas se encaminharam ao local da tragédia, onde, quando lá chegaram, num instante descobriram que não tinham o que fazer. Preferiram se esconder, assistir o que ocorria. 

 

Viram os seletos guerreiros e os demais outros homens envolvidos na caçada já cozinhando o antílope numa panela de barro em fogão improvisado.

 

De tal modo festejavam a comilança aguardada que mais pareciam surdos aos lamentos que invadiam as terras do mandiocal: 

 

– Não faz o que faz comigo! Não faz o que faz comigo! Não faz o que faz comigo! – gemia a carne entre as chamas.

 

Algum tempo depois, o que os três anciãos viram paralisados pela dolorosa cena foi pior do que o esperado, algo nunca imaginado, mas foi o que aconteceu e resta contar agora, sendo o que farei aqui sem me importar com o temor de algum leitor desta história.

 

O fato é que, no instante em que os mais apressados abocanharam a carne retirada da panela, já na terceira mordida tombaram no chão gritando, entregues a dor aflita num desespero infinito.

 

Logo em seguida os seus ventres em crescimento crescente mais crescendo sem cessar rapidamente explodiram inundando o mandiocal com fedor de carne morta.

 

Diante dos companheiros mortos dessa maneira, os demais que lá estavam em torno do cozinhado fugiram apavorados para o interior da mata e nunca mais foram vistos. 

 

Se morreram, ninguém sabe. 

 

(Há quem diga que essa gente virou hiena selvagem, bicho noturno e feio, comedor de carniça. Pode ser, mas quem garante? Só sei que sumiram mesmo.). 

 

Sem mais ter o que assistir, certamente impressionados e não menos apressados, o tio e seus dois amigos deixaram aquele local. Retornaram à aldeia onde o povo ainda orava e mais rezou ao saber de tudo o que ocorrera.

 

Consta ainda – bem se conta – que na tardinha dia, antes do anoitecer, as mães dos três lavradores das lavouras – de inhame, de banana e de mandioca -, mais as mães dos guerreiros envolvidos na maldade antes acontecida foram até o mandiocal.

 

Atendendo à tradição do que se deve fazer e com precisa coragem, essas bondosas mulheres lá recolheram as carnes do antílope encantado, que guardaram em mortalha tecida na mesma tarde com os fios de seus cabelos. 

 

Assim levaram o morto para dentro da floresta que rodeava a aldeia, onde ele foi sepultado após justas oferendas, mil pedidos de perdão com cantos de orações aos antepassados bons e aos deuses generosos. 

 

No princípio da noitinha, retornaram à aldeia trazendo a paz em suas mãos.

 

Foi o que aconteceu. 

 

Mais não sei o que contar.

 

Uns acreditam. Outros, não. 

 

Prefiro acreditar.

                                                                 

                                 

Fotografia de José Arrabal

 

José Arrabal é professor universitário, jornalista, escritor, autor de contos, novelas e romances. Entre suas 50 obras publicadas sobressaem “O Nacional e o Popular na Cultura Brasileira: Teatro” (Editora Brasiliense), “O Livro das Origens”, “Lendas Brasileiras, Vol 1/Vol. 2”, “As Aventuras de El Cid Campeador”, “Romeu e Julieta”. “Da Vinci das Crianças”, “Lazarilho das Crianças”, “O Terrível Gosmakente” “A Chave e Além da Chave” (Editora Paulinas), “A Ira do Curupira” (Editora Mercuryo Jovem), “O Noviço” (Editora FTD), “Stalin – Biografia” (Editora Moderna) “Histórias do Japão”, “O Lobisomem da Paulista” (Editora Peirópolis), “Contos Brasileiros (Editora Expressão Popular) e “Anos 70 – Ainda Sob a Tempestade” (Aeroplano Editora). “NOUVELLES BRÉSIL” (Antologia de contos/com outros autores) – Collection Archipel – Éditions Reflets d’ailleurs–França – Blog  [ http://josearrabal.blogspot.com.br/ ]

 

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