Cultura

Espere só pra ver… | Xico Simonini

Um pouco dos muitos mexe pra lá, mexe pra cá. 

 

     Nestas mexidas pra lá e pra cá mexidas, quem sabe? Quem saberia dizer? O nascer… O raiar… O brotar… 

 

     Nova Terra… Exuberante Terra! Terra Nova…

 

     Mais de oito e meio milhões de quilômetros quadrados… Quinta maior área do Planeta… Litoral de quase oito mil quilômetros… Invejável diversidade de animais selvagens… Exuberante ecossistema… Valiosos recursos naturais… 

 

     Nativos? Puros… Sinceros… Humanos… 

 

     Paraíso? Olimpo? Céu? Obra prima… Obra-mestra… Obra capital… Primor da Natureza? Da Natureza, esmero? Sim!  Da Natureza, criada pelo primor e esmero do indecifrável poder da Natureza!

 

     Nove de março, mil quinhentos… Portugal… Lisboa… Porto do Rastelo – “A praia das lágrimas para os que vão. A terra do prazer para os que voltam…”

 

     Pedro Álvares Cabral… Nove naus, três caravelas, uma naveta… Quarenta e quatro dias… Mar Tenebroso… Tormentas, calmarias, doenças… 

 

     Capitão, Piloto, Mestre e Contramestre, Marinheiros, Condestável, Religiosos, Médicos, Boticários, Calafates e até mesmo Degredados. 

 

     Mil e quinhentos zarparam, lágrimas nos olhos. Quinhentos retornaram, prazer nas almas. 

 

     Calicute – Índia, o destino! Seria? Talvez sim! Talvez não! Digam esta pra outro! Pra algum trouxa que pela aí vagueia.    

 

     Porém, ao entardecer daqueles vinte e dois dias, daquele quarto mês, daqueles mil e quinhentos anos…

 

     Tchan! Tchan! Tchan! Tchan! 

 

     Terra à vista! Vista deslumbrante! Descobrimento ou Invasão? 

 

     Pindorama… Monte Pascoal… Praia da Coroa Vermelha… Ilha de Vera Cruz… Terra de Santa Cruz… Nova Lusitânia… Cabrália… Império do Brasil… Brasil…   

 

     De quinhentos mil a um milhão de filhos da Terra. Escreveu Vaz de Caminha, eles “Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse as vergonhas, traziam nas mãos arcos e setas…”

 

     E entre a chegada e saída da Cabralina Esquadra, teve início a Descoberta… Ou Invasão, Assalto, Usurpação destas paradisíacas terras…

 

     Ainda no Porto do Rastelo, “A praia das lágrimas para os que vão. A terra do prazer para os que voltam…” Estranhíssimo papo virtual entre, nada mais, nada menos, do que o Capitão Cabral e o Capetão Satã. 

 

     E qual foi mesmo o quiproquó, entre o Capitão e o Capetão, Galera querida, da minha terra, querida?

 

     Barra-pesada! 

 

     Cabral, humildemente, ouvia e concordava e Satã, autoritariamente, gritava e ordenava: 

 

     Cabral, vai! Vai, Cabral! Enfrente, navegue e vença o Mar Tenebroso! Escreva para sempre seu nome na História! Invada aquelas paradisíacas “terras onde em se plantando, tudo dá”, Cabral! Terras portadoras de tudo aquilo que faz dela um Pindorama… Um Paraíso… Um Olimpo… Um Céu… Aquela obra prima criada por Aquele insuportável do meu Adversário…  Aquele Cara que se acha! Aquele Sujeito metido a bambambã. Do Amor… Da Paz… Da Alegria… Da Bondade… Da Humildade… Da Fidelidade… Aquele Engraçadinho, sim, Cabral, o Pai do Filho! Ele criou uma parte! Eu vou…  Eu vou…    

 

     Mas, Satã! E aí? Qualé mesmo a sua intenção, o desejo deste Augusto Rei das Trevas quando vocifera  Eu vou… Eu vou…, hein, Capetão? 

 

     Elementar, meu caro, Watson/Navegador! Vá! Descubra o Paraíso, Cabral, e espere só pra você ver, Cabral, a Gentalha que planejei, concebi e pari pra habitar aquele tal e qual Pindorama!

 

Francisco Simonini da Silva (Xico Simonini)  nasceu em Viçosa, MG, no dia 18 de novembro de 1941. Em sua cidade natal, em Belo Horizonte (MG), Florestal (MG), Pará de Minas (MG), Divinópolis (MG), Piracicaba (SP), Assis (SP), Primeiro de Maio (PR), Juiz de Fora (MG), Cataguases (MG), Ponte Nova (MG) e, recentemente em Santo Antônio de Pádua (RJ) construiu sua trajetória de professor e administrador do sistema educacional, além de marcante atuação na imprensa e na militância político-partidária. Aposentou-se como professor-adjunto na Universidade Federal de Viçosa (UFV), onde exercia suas funções no Departamento de Educação, do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Vem atuando, há mais de cinquenta anos, no sistema educacional público e privado (da educação infantil à pós-graduação), no ensino, pesquisa, extensão e administração. Por iniciativa individual ou coletiva participou da fundação de uma dezena e meia de escolas e cursos em todos os níveis. Sua trajetória é marcada por vigorosa atuação política, partidária e sindical e em campos diversos, como músico, desportista, comentarista esportivo, escritor, poeta, chargista e responsável pela publicação do semanário viçosense “Muzungu”.

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