Política

Editorial: hoje

 

 

“Urgente é a vida!”

Alcione Araújo

 

Brasil, 15 de abril de 2021. Medidas de distanciamento e a vacinação guiam o ritmo de retomada da economia mundial. O Brasil vai na contramão. Em meio a uma crise humanitária sem precedentes, o Brasil é o centro das atenções – símbolo do olhar ao absurdo, pois passa por uma catástrofe, registrando o maior número de mortes diárias por Covid-19 no planeta. Após este inferno haverá outro? Vivemos o Inferno Dantesco – a revolta presente pela real condição da saúde de nossa população, pela normalização da tortura que é o procedimento de intubação de pacientes acordados, amarrados ao leito, sem a sedação necessária.

Não houve surpresa, o Superior Tribunal Federal, confirma a anulação das quatro condenações de Lula por oito votos a três, liberando o ex-presidente para disputar as próximas eleições. Após o 21 de abril tratarão das decisões do ex-juiz Moro e se consideradas suspeitas podem invalidar a operação Lava-jato. No senado, a CPI da Covid-19 investigará ações e omissões do governo federal quanto à pandemia. Cumprirão seu objetivo?

Em carta a Biden, o presidente se coloca contra o desmatamento, citando práticas positivas do Brasil em relação ao desmatamento da Amazônia e cita datas para cumprimento de metas. Não fala no desmonte da política ambiental brasileira durante o atual governo, nem do percentual de 30%.de desmatamento da Amazônia no ano de 2019. Durante a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, o Papa Francisco envia uma mensagem de solidariedade à população brasileira, citando claramente o vírus da indiferença como o verdadeiro mal.  

A ONG Médicos Sem Fronteiras expõe nossa catástrofe humanitária, atestando o caso brasileiro como resultante da pior gestão da pandemia em todo o mundo. Escolas fechadas em resposta a um dos maiores dilemas do momento – abrir escolas e contaminar alunos e professores, além de seus familiares, ou manter alunos em suas casas e gerir a fome?

A humanidade insiste na busca de significado para a vida humana neste universo caótico, na irracionalidade dos atos e omissões humanas e em sua patente inabilidade de encontrar tal significado humanamente impossível. O ponto cego é a própria impossibilidade, visto que o conflito surge do olhar que não se apercebe de que o absurdo surge na contrariedade ao olhar o mundo. 

A humanidade desespera após tragédias, em certos momentos consegue estar presente. O indivíduo é a força que verdadeiramente gere o mundo neste dia. Viver o presente pode ser o mais difícil num momento como o brasileiro. Viver integralmente implica em honestidade pessoal e em agir e decidir em concordância a seus verdadeiros motivos. Seria isso humanamente possível? Sobreviver a este olhar, o grande medo de muitos.  

Antes de clarear o dia chegam notícias de um tiroteio em Indianápolis e nos encontra na última leitura do texto. A madrugada nos integra ao dia, ao som dos primeiros automóveis, do transporte público. Chegam da China 2,3 milhões de medicamentos básicos para intubação. É abril, imagens portuguesas chegam através de mídias da memória. Pessoas carregam cravos nas mãos. Mesmo antes, há um homem, aparenta ser um lavrador do mar, caminha na praia, sob o sol. Amanhece o dia 16.

 

Myrian Naves é uma poeta, escritora e professora brasileira. Nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais. Professora de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira. Colaboradora de InComunidade, faz parte do conselho editorial e representa a revista no Brasil. Recebeu o prêmio Adolfo Aizen de Literatura para Infância e Juventude, inéditos, pela UBE-União Brasileira de Escritores. Integra antologias, entre elas, O Amor no Terceiro Milênio: cem poetas brasileiros, ed. Anome; Poesia para mudar o mundo, ed. Blocos. Publica em revistas literárias como Germina, Mallarmargens, no site Blocos Online em InComunidade. É gestora da Cantaria, artes e ofícios – Literatura, Artes e ofícios afins.                   

 

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1 Comentário

  1. O editoral traça um quadro exato do que vivemos no Brasil. Muito bem escrito.

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