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EDITORIAL | Henrique Dória

Ao longo de séculos, os crimes da Igreja Católica sempre foram silenciados pelos seus mais altos representantes, desde papas a cardeais e bispos. Instituições como as cruzadas – incluindo contra cristãos, como sucedeu com as cruzadas contra os cátaros – a inquisição, as conversões forçadas e o índex foram apresentados ao mundo pelo poder de Roma como sendo virtudes. 

Roma sempre silenciou  a verdade sobre papas como os abomináveis João XI e João XII, que viveram maritalmente com a próprias mães, Bento IX, cruel, devasso e bêbado, que vendeu o papado, Alexandre VI que teve um filho da própria filha, a célebre Lucrécia Bórgia, e tantos outros papas cuja malvadez e crimes demonstram que não acreditavam no Deus do Judeus e, muito menos, em Cristo. 

Desde que se aliou ao poder temporal com o imperador Constantino, a Igreja de Roma perdeu toda a sua pureza inicial e transformadora, reivindicando para si o poder temporal, tendo-o até feito através de uma falsificação, a chamada Doação de Constantino. 

Ainda no século XIX, o papa Leão XII punha o pé no pescoço dos cardeais que se atreviam a contrariá-lo. Porém, com o advento do cinema e, depois, da televisão, e a difusão dos jornais, tais comportamentos tornavam-se impossíveis de ser escondidos. A cumplicidade de Pio XII com o nazismo, negada pela Igreja Católica, está longe de ser uma falsidade, tanto mais que o seu antecessor, Leão XIII, disse ao Kaiser Guilherme II que a Alemanha deveria ser a espada da Igreja de Roma.

Crimes como a pedofilia e castigos corporais a crianças que as levavam, algumas vezes, à morte, apesar de tudo menores quando comparados com os da Inquisição e das Cruzadas, continuaram a acontecer no século XX e ainda continuam a acontecer neste século XXI. Mas, ao longo de decénios, Roma conseguiu encobri-los.

Vem isto a propósito da visita do bom Papa Francisco  ao Canadá para pedir perdão pelos crimes praticados pela Igreja nesse país, desde conversões forçadas, destruição de culturas, pedofilia, retirada de crianças aos pais e maus tratos físicos e psicológicos a crianças que as levaram à morte, isto durante décadas e já no final do século XIX.

Em Portugal, veio agora a lume que os cardeais D. José Policarpo e Manuel Clemente encobriram as práticas pedófilas de alguns padres. Denunciar esses crimes é um dever moral, cívico e legal de qualquer cidadão. Não o tendo feito, D. Manuel Clemente não incorreu no conceito técnico penal de encobridor. Mas incorreu nesse conceito moral e civicamente. O mínimo que se exige dele é a sua renúncia, como fizeram outros cardeais que encobriram idênticos crimes.

Se isso não acontecer, a Igreja do bom Papa Francisco – que, apesar de tantos papas abomináveis, foi também a Igreja de Francisco e Clara de Assis, e só por estes e outros de grande exemplo continua a existir- ficará manchada. O cardeal Manuel Clemente e  outros dignitários que como ele agem, deveriam compreender que estão a contribuir para o desprestígio do catolicismo e a sua decadência crescente ao não se demitirem.

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