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EDITORIAL | Henrique Dória

Este ano trágico de 2022 foi o ano em que o tempo da democracia conquistada pela gloriosa  revolução de 25 de Abril de 1974 atingiu mais longevidade do que a ditadura que derrubou a primeira República. Seria tempo de fazermos um balanço do legado dos dois regimes. Não cabe neste breve editorial esse balanço, mas algo é imperativo assinalar-se. 

O Portugal de hoje, manifestamente, nada tem a ver com o Portugal da apagada e vil tristeza em que os portugueses viviam em 1974.

A evidência exterior encontra-se por todo o lado. Não se encontram à bairros de lata à entrada das grandes cidades, sendo o caso mais notório o de Lisboa. As nossas cidades vilas e aldeias encantam pela beleza os que seus habitantes e quem as visita. No que toca às redes de distribuição de saneamento, elas eram praticamente inexistentes até mesmo dentro das grandes cidades, e as redes de distribuição de água não chegavam às aldeias, nem a algumas  a zonas assinaláveis de vilas e cidades. Não havia energia elétrica em grande parte das aldeias. A generalidade do parque habitacional era pobre e degradado. Não existia uma rede de autoestradas e a rede viária, em geral, era muito má. O património encontrava-se degradado e, muito dele, destruído.

 Não existia uma rede de cuidados de saúde, a esperança de vida era a mais baixa da Europa e a mortalidade infantil a mais alta. O analfabetismo atingia cerca de 30% da população. Era reduzido o número de licenciados, reduzidíssimo o número de doutorados, e praticamente inexistente a investigação científica. A condição da mulher era a de serva do lar. 

Portugal sangrava com a guerra colonial e a emigração dos mais jovens que saiam em golfadas para os bairros de lata de França. No dizer de Salazar, Portugal era um pobre país agrícola destinado a viver como habitualmente.

A ausência de liberdade sindical, do direito à greve, ajudava à manutenção da miséria das classes trabalhadoras que tinha como contraponto a relativa riqueza dos médios e grandes empregadores cuja incompetência em termos de gestão poderia continuar indefinidamente dada a proteção salazarista através da repressão dos operários insubmissos.

Por isso, o triunfo do 25 de Abril foi celebrado como uma imensa festa nacional de entusiamo e esperança no 1º de Maio de 1974

Não precisamos de descrever o que é o Portugal de hoje porque todos saberão fazer a comparação do que somos com o que antes vai, muito sumariamente, descrito.

Poderemos dizer que a mudança é tão notória que de país de emigração passámos a ser um país de imigração. De país ignorado passámos a ser um país visitado e admirado. Certamente que muito está por fazer, em particular no que toca ao fim da inaceitável desigualdade que persiste porque, em grande parte, os sindicatos foram, com o passar dos anos, perdendo grande parte da sua força e poder reivindicativo, esmagados pelo poder económico e pelas forças políticas a ele aliadas, para quem o sindicalismo é um entrave.

Que este 1º de Maio de 2022 seja um acordar das classes trabalhadoras, e dos partidos políticos que dizem apoiar as classes trabalhadoras, para a necessidade de fazerem inverter esta tendência decrescente em que se está a afundar o sindicalismo.

Mas, no essencial, a Revolução de Abril restitui-nos o valor insubstituível da liberdade e da democracia, e libertou-nos da apagada e vil tristeza do regime salazarista. 

Por isso só poderemos estar gratos aos heroicos capitães de Abril e erguer bem alto os cravos, símbolo da gloriosa revolução. 

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