Cultura

Deméter | Tere Tavares

Conjuga as flores e salta de onde estás. Restarás como a folha asfixiada na cor escorreita do fluxo outonal, na dormência aparente do tempo. A morte inclinada para uma aliança que virá em breve. Outra e outra vez, nos mistérios das estações. Perséfone.

As mulheres, dilatadas em suas inimagináveis variações, guardam dentro de si a matéria que, inevitavelmente, repassarão à existência que biografará suas relações com toda a humanidade – como quem estuda as descobertas pela observação conjunta e o permanente questionamento que se depara com a instrumentação espiritual e corpórea, com a disciplina de evanescer a ignorância e reduzi-la. Sobre que extensão se encontra o que perpassa a intrincada floresta dos sentimentos femininos? Há que perscrutar, na aparência e na profunda submersão, razões que as expliquem ao além limite das críticas pecaminosas. 

Olhar demoradamente para as portas que não se tornam descendências, para o avesso das sombras onde as mulheres salvam suas intermináveis histórias, como se diagramas de páginas sagradas, inclusos os ornamentos com que brincam suas crianças, quando elas assumem carregá-las com o zelo dos anjos invencíveis feito mergulhos e voos culminados num mesmo encontro. Ser mãe é esquecer-se dos lenços. Sequer aparar as lágrimas. Mulheres provadas e provedoras ademais de todas as tiranias, das tácitas renúncias por tolos reinados e todos os apócrifos grifos, pseudoparaísos e fidalguias, bravuras apagadas nos acontecimentos sucessivos, desvendados e amplificados nas execráveis adjetivações que as vitimam para subjugá-las. Que harpas e harpias elas necessitam tornar-se, que fenecimento se oculta em cada revelado salto rumo às encostas abissais, às cercanias inusitadas, sem pasmo algum.

Nada do que se percebe é simples. Que felicidade, que riqueza é estender-se como sobrevivência, apesar de todos os pesos; a consciência é a fonte engenhosa da inesgotável generosidade que possuem de amar com o que é tangível, serem extremadas, verdadeiras e dignas sem almejar posteridade, pois conhecem a brevíssima memória do que são e representam. Dessas múltiplas guerreiras, nunca se saberá o quanto se fizeram boas e belas, o quanto foram treinadas para se livrarem de toda má didática e permanecerem ferozmente vivas e férteis, por amarem à grande mãe Terra como extensão de suas próprias almas.

 

Tere Tavares nasceu em São Valentim, RS, é poeta, contista, ensaísta e pintora. Desde 1983 reside em Cascavel, PR, Brasil. É autora de onze livros publicados: “Flor Essência” (poesia 2004 ), “Meus Outros” (poesia 2007), “Entre as Águas” (contos 2011), “A linguagem dos Pássaros” (poesia Editora Patuá 2014), “Vozes & Recortes” (contos Editora Penalux 2015), “A licitude dos olhos” (contos Editora Penalux 2016), “Na ternura das horas” (ensaios, Editora Assoeste 2017), Campos errantes (contos Editora Penalux 2018), Folhas dos dias, e-book (ensaios Selo Ser MulherArte Editorial, 2020 ), “Destinos desdobrados” (contos, Editora Penalux, 2021) e “Diário dos inícios” (poesia, Metanoia Editora, Selo Mundo Contemporâneo Edições, RJ).

Participante de cinco coletâneas, categoria contos, editadas em Portugal: “A arte pela escrita III” (2010) “Cartas ao Desbarato” (2011), “A arte pela escrita IV” (2011), “A arte pela Escrita VIII” (2015), e “A arte pela escrita IX” (2016). Consta com trabalhos de prosa e poesia nas “Antologias Febraban” (2007) e (2009),  “Saciedade dos Poetas Vivos” Vol 11 (2010) em “Blocos onLine”, “Contologia” da Revista “Arraia PajeurBR” 4, (2013), “Antologia Poética 29 de abril o Verso da Violência” (Editora Patuá 2015)”,  “Sobre lagartas e borboletas” (Selo Editorial Scenarium 2015), “Aquafúria – Uma antologia de Poetas Sedentos” (2015), “Diversos –Poesia e Tradução- Edições Sempre em Pé”, PT (2016),  I Antologia Digital de poesia “Porque somos Mulheres” da Revista Ser MulherArte (2020), Antologia Selo Off Flip 2020 “Parem as Máquinas”, Conto, Poesia e Crônica, Antologia Selo Off Flip 2021 Conto, Poesia e Crônica.

Conta com publicações em mídias eletrônicas e/ou impressa: “Cronópios”, “Histórias Possíveis”, “Blocos on line”, “Musa Rara”, “Diversos Afins”, “Germina – Revista de Literatura e Arte”, “Escritoras Suicidas”, “Mallarmargens – Revista de poesia e arte contemporânea”, Revistas “Fénix-Logos”- PT e “EisFluências”- PT, Revista “Soletras” de Moçambique, Revista “Vitabreve” – Revista de Arte e Cultura, “Acrobata”, “Amaité Poesia & Cia”, “Fotos e Grafias”, “Escrita Droide”, “Quatatê: Página Brasileira de Poesia do mundo”,Revista Ser MulherArte”, “ Ruído Manifesto”, “Revista Cultura-e”, “Jornal Relevo – Impresso”, “Recanto do Poeta – ICASAA” . Foi convidada, em 2018 para dar entrevista ao “Como eu escrevo”, e, em 2020 para o “Café Pós-moderno” da “OBVIOUS”, sediada em Portugal, PT. Em 2020, teve diversos textos publicados no Museu da Língua Portuguesa: Projeto “A Palavra no agora”, 2020. Integra a Academia Cascavelense de Letras.

 

 

 

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