Henrique Prior


Imagine o leitor que era dono da modesta casa onde vivia e dumas courelas que, no conjunto, não ultrapassavam a área de um campo de futebol, courelas essas que, embora cheias de pedra e falhas de água, permitiam que o leitor retirasse delas o seu sustento. Essa casa e essas courelas já pertenceram aos seus antepassados pelo menos desde há 1.300 anos, e nelas vivia em pobreza mas com o direito a uma habitação e ao sustento seu e da família assegurados.
Imagine também que estava muito tranquilo em sua casa, ou no cultivo das suas courelas, e vinha um grupo de sem abrigo, o expulsava da sua casa e das suas terras e se apoderava delas deixando-o sem teto e sem poder obter o seu sustento.
O que sucedeu na Palestina em 1947 , 1948 , 1949, e nos anos seguintes, até aos dias de hoje, tem sido isso.
Os palestinianos que habitavam as suas casas e as suas terras foram delas expulsos por colonos judeus vindos de todas as partes do mundo, em particular da Europa, tendo os palestinianos sido muitos deles mortos e outros forçados a fugir para o Líbano, onde encheram, em condições ignominiosas, os campos de concentração de Shatila e Sabra.
Desde então para cá, quer através da implantação de colonatos, quer através de sucessivas guerras, Israel tem continuada a fazer, com maior ou menor lentidão, o que fez em 1947, 1948 e 1949.
Em 1982, milícias libanesas supervisionadas e auxiliadas pelo exécito israelita, massacraram, nesses campos de concentração de Shatila e e Sabra, cerca de 3.000 palestinianos, na sua esmagadora maioria velhos, mulheres e crianças, naqulilo a que a ONU apelidou de GENOCÍDIO.
É certo que os palestinianos não ficaram de braços caídos. Lutaram, continuam a lutar contra Israel.
Mas o leitor não faria o mesmo se lhe roubassem a sua casa e as courelas que asseguravam a sua sobrevivência e da sua família?
Em Fevereiro de 1948, David ben Gurion, orgulhava-se de que em Lifta e Romema, povoações próximas de Jerusalém, já só havia judeus. Todos os palestinianos tinham sido expulsos dessas povoações. E mostrava a esperança de que o mesmo sucedesse noutros lugares da Palestina. O que, realmente, foi alcançado.
Festejam-se hoje os 70 anos do nascimento do Estado de Israel. Em mais um dos muitos atos de humilhação dos palestinianos, o aventureiro Natanyahu, primeiro-ministro de Israel, e o idiota Trump, presidente dos Estados Unidos da América, celebraram a data com a transferência da embaixada dos EUA para Jerusalém, contrariando a legalidade internacional, pois a ONU sempre rejeitou a anexação dessa cidade pelo Estado de Israel, nomeadamente na decisiva Resolução 478 do Conselho de Segurança de 20 de agosto de 1980.
A solução de dois povos, dois Estados, preconizada pela ONU em sucessivas resoluções aprovadas por maioria esmagadora, está, assim a ser inviabilizada por um aventureiro e um idiota, com apoio dos respetivos povos.
Mas ambos já deveriam perceber que a sua derrota estrondosa na recente guerra da Síria, e a derrota mitigada, em 2006, na luta contra o Hezbollah, no sul do Líbano, demonstrou que Israel não é invencível.
E que não viverá em paz enquanto cada palestiniano perguntar, como perguntou o poeta e resistente palestiniano: Mahmoud Darwish: “Senhoras e senhores de bom coração, a terra dos homens é mesmo de todos os homens? Onde está então o meu casebre?”