Cândido Rolim


amante à moda antífona
queria um perfume de longe
deu-lhe um atavio encarnado
pediu um ônix
trouxe-lhe as minúcias de um salmo
esperava um paiol
entregou-lhe um feixe de blandícia
sugeriu um cruzeiro
deu-lhe o eclipse
pediu um carro zero
deu-lhe uma safra inteira de sigilo
rendimentos morais de uma intervenção
por mais que o palestrante destaque
sua capacidade de
postar-se na situação do outro:
visível o desejo de que se tome seu exemplo
como ilustrativo da postura moral
recomendável a todo e
qualquer tipo de contexto.
Para tudo na vida, uma boa imagem
No painel da traseira do ônibus
na mídia digital do consultório
no meio aquoso da revista: casal de sorridentes velhinhos
(bote em forma de cisne) digamos
propaganda de pecúlio e empréstimos para aposentados.
Jovem ilustra colchões de mola e casas geminadas.
Crianças suspensas em balões verdes para o plano de saúde.
Móbiles indiferentes à necessidade
premeditada.
Faina
Fique em silêncio
observe o
estalo de mó
triturando ossos
algo coisas à
margem
Essa leveza
Tipo peso se
ausenta
da cama
e é
percebida: o corpo desloca
a transparência
Axe musk
No messejana expresso um
hiparco remeiro mediano para
baixo - sua
grande cicatriz de
queimado
compensa com um perfume
Intenso – axial -
desodor
Desculpe, but
Desculpe, mas pertenço a um mundo desvirtuado
Também não me sinto moralmente apto a
tirar da experiência um lema
Desculpe, mas minha formação musical é promíscua
Desculpe, infelizmente essa metáfora não me atinge
Obrigado, mas não vivo de ênfase
Desculpe, não planejo dizimar a ideia contrária
Desculpe, mas não concluí a tarefa com êxito
axiológica
os velhos falam em imersão
devalores
os velhos alegam ausência
devalores
mas os velhos não dizem
como chegaram a nem
quais são os
seusbolores
de cima a baixo
E esse senhor bem vestido de cima
espiando o contorno
opalescente das unhas
nada diz nada fala nada
comunica a esse outro que
lhe engraxa os sapatos
a razão periférica
Esses só
vistos quando e
onde in
visíveis
Esses ausentes
estofos da
razão que os
alveja
Esses que
por motivos bem
diferentes
nascem
Poeta brasileiro, Cândido Rolim nasceu na região do Cariri, sul do Ceará, em março de 1965. Morou em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Atualmente trabalha em Fortaleza. Tem poemas, resenhas e ensaios publicados na internet, em revistas e jornais (clareiranaselva, cronópios, germinaliteratura, corsário, sibila, jornaldepoesia, enfermaria nº 6, diversos & afins, Continente Sul, Um tigre na floresta de signos (Organizada por Edimilson de Almeida Pereira), etc. Publicou os livros “Arauto” (Edições Dubolso, Sabará/MG, 1988), “Exemplos Alados” (Letra e Música, Fortaleza/CE, 1997) e “Pedra Habitada” (AGE, Porto Alegre, 2002), “Camisa qual” (Èblis, Porto Alegre, 2010). E-mail: candidorolim@hotmail.com