Cultura

RAIAS-MACARÉUS

AS RAIAS POÉTICAS: AFLUENTES IBERO AFRO AMERICANOS DE ARTE E PENSAMENTO acontecem há 10 anos na CASA DAS ARTES de VILA NOVA FAMALICÃO, PORTUGAL. Professores, escritores, poetas, tradutores, críticos, ensaístas, artistas, viajantes das metamorfoses… intensificam as conexões estéticas éticas, as reviravoltas moleculares, o manguezal linguístico, as estéticas do esquecimento como memória-ontológica-futurível: um acontecimento indizível a partilhar a estilização dos encontros abertos aos ritmos problemáticos do sensível, actualizando a vitalidade do desejo: LITERATURA-ARTE-CORPO-PENSAMENTO-CIÊNCIA-NATUREZA: 

entrecruzamentos do pensamento por vir-contagiante, fluxos imanentes misturadores de rotas da política do impossível e das artes ibero-afroamericanas: mesclar fronteiras estéticas, atravessar perplexidades, heterogeneidades, transmutar vizinhanças captadoras de forças expressivas em zonas híbridas, movediças: dizem: espaços fragmentários-miscigenados a gerarem movimentos ampliadores de desenhos de sensações que desmoronam hierarquias, representações totalizadoras, rasgam caminhos de liberdade entre tramas artísticas que escapam ao poder recognitivo para suscitarem os RITMOS enciclopédicos que nos forçam a acometer o desconhecido, a dizer o indizível, a ver o invisível, a tocar o intangível, a escutar o insonoro.

 

As RAIAS  impulsionam as reminiscências-mundo para resistirem aos microfascismos por meio de relações de forças activas que rasgam dentro de nós os regimes produtores de medo. As RAIAS lidam com o caos, geram novas dimensões do tempo e o que não existe: há um exercício trágico, há uma política de composição do impossível. As RAIAS exercitam limites e não acordos ou consonâncias: há um salto do pensamento-devir, há uma ruptura do sensório-motor que ULTRAPASSA o apaziguamento e enfrenta o prébabélico para gerar novos mundos no mundo: as RAIAS NÃO obedecem porque se libertam do organismo identitário: com as RAIAS o real torna-se ainda mais real do que o real, aqui não há delusão, há redobramento germinal porque as RAIAS confundem-se com a VIDA. As RAIAS absorvem uma tecelagem existencial ética,  um lance do múltiplo, um risco de vida cingida por  linhas do impensável que potencializam as revelações das forças da autonomia do tempo: as RAIAS surgem no insaciável que muda pontos de vista, há uma voltagem gradativa tremenda que está sempre em processo complexivo dentro das RAIAS, aumentando a diferença por meio de uma correnteza aberta e de uma experimentação integral que se faz com novas possibilidades de vida, com o próprio corpo mergulhado nos sublimes, o que quer dizer modos de vida-RAIAS como uma crítica e uma liça de si: o que queremos fazer com a nossa única vida?

 

As RAIAS livra-nos do sujeito psicológico, de ideais e da consciência julgadora como fez PROUST, Friedrich Nietzsche e VISCONTI: as RAIAS  exploram as forças do esquecimento e os lugares informes de passagem entre fundos de tempos histéricos-sublunares e forças inexplicáveis que nos constituem e nos fazem criar cérebro-realidade, criar processos de singularização por meio de atravessamentos da matéria catalisadora da durabilidade dos instantes, produzindo diferença inventiva. As RAIAS e os deuses produzem gargalhadas sobre os homens neurotizados por falsos infinitos. As RAIAS advêm do excesso do mundo de uma animalidade revigorada pela incessante insurreição que nos faz sentir que o encontro-de-almas-inteiras não é gerado pela razãosuperior-reconhecida do humano: as RAIAS despontam dentro da CRIAÇÃO do devir-animal ou possivelmente do mineral-vegetal-cíbrido-acósmicoimpessoal onde a estética-ética-imanente vaza o desassossego, assimila, absorve (esponja) as forças do acontecimento, a vida-feiticeira e afasta-se da tentativa de processo criativo sobre a vida porque ELA é já-VIDA em si-mesma, é eternidade gerada pelo caos e por matérias indeterminadas, povoando potências, voltagens, feixes, limiares, ressonâncias AFECTIVAS. As RAIAS relacionam forças dos materiais com contágios de movimentos, de afectos de uma vida não comparável, de improvisações que absorvem e experimentam a intensidade existencial dentro do como e evitando o quê para construírem, bosquejarem linhas virtuais, ilimitadas por vir:  É preciso ter uma ALMA, para isso é preciso fazê-la, sim, Étienne Souriau. Estamos amarrados às finalidades que controlam o CORPO e a ALMA: a ALMA é germinativa e se “expressa ao apresentar o inesperado, o imprevisível, o improvável”: as ALMAs germinativas das RAIAS  geradoras de tempo, de multiplicidades rítmicas que acordam o estranho dos corpos para fazerem durar os afectos plásticos entre valores sempre em recriação: processos inobjectiváveis nos fazem sentir o extremo em cada ponto de vista. RAIAS não confundem esperas e recolhimentos com a escravatura das esperanças impulsionadoras por sentenças das paixões tristes, não confundem generosidades com trocas, com cobranças porque não enclausuram o PENSAMENTO na RAZÃO, nas filosofias da finitude, nas filosofias mortificadas, agoniadas presas no CONHECIMENTO para se servirem da moral, das representações dos veredictos do bem e do mal entorpecedores do corpo por meio de um poder vampiro que nos lança permanentemente para a dívida infinita e para o juízo do acontecido.

As RAIAS relacionam  as forças do sensível com as potências do pensamento, porque não interessa uma estética do reconhecimento que normatiza, controla, rebaixa, penhora e intoxica a existência, mas ritmos do impensável que se desdobram entre macaréus artísticos e topologias de contradições inultrapassáveis nutridas pela capacidade de durar no tempo: pensar o impensável no pensamento com o retorno energético que nos faz experimentar a absoluta alteridade através de corpos escarificados por marchetarias-do-acaso, por vazios dançantes, mesclando signos no reencontro com as diferenças das linguagens intensivas que impulsionam uma prática fabulatória, pondo o dentro e o fora em recomposição contaminadora envolvida pelo real inexaurível: aqui-agora: os traçados dinâmicos das reexistências heterogéneas captam forças cósmicas e nos fazem ver a realidade da ficção nas ressurgências rítmicas da matéria envolvida por consistências sígnicas: há forças dos espantos do risco de vida, criadores de zonas vivificantes, de movimentos de desabaladas vitalidades fora das verdades instauradas e em conexão com os liames de contacto entre as espessuras da ficção e a realidade fractal de uma multidão em latência crítica: o tempo das RAIAS é uma experimentação mergulhado nos meios da descodificação e dos jogos do sublime existencial que fazem desaparecer o rosto ao recriarem limites com o  indeterminado e o incerto. Há uma zona ritmável da indiscernibilidade entre geografias radiculares das RAIAS e os territórios por vir, reforçados pela imagem-tempo-pura (envolvências da imagem-cristal), porque se experimenta o tempo dos espelhos labirínticos para além dos aprisionamentos do sensóriomotor, o tempo no seu heterogéneo voltaico perante as bordas da catástrofe  afirmadora da mudança onde a força da Ética faz do cuidado de si uma estilização a vida foucaulteana.

As RAIAS revelam-nos prismas, zonas plásticas, angulações, ritmicidadades, distâncias, vazios, errâncias que nos fazem atravessar obstáculos por meio de movimentos de ecologias irrefreáveis que resistem à morte (Malraux). As RAIAS esponjam semioticamente a nobreza da alegria criativa dentro da tragédia, traçam trilhas-não-trilhadas dentro da natureza, da ciência, da arte que nos faz diferir e capturar, abrir, escavar até à repleção o real, compondo o inédito com consistências que nos arremessam para campos problemáticos juntamente com do DEVIR do corpo sem órgãos. As RAIAS relançam forças expressivas, singularidades-hápticas e produzem energias caóticas do lado do indecifrável que se adentra no esforço supremo do pensamento (provocar modificação acontecimental em nós). As RAIAS provêm aliadas às fugas histéricas de uma VIDA feita de energias transmutantes que se infiltram nos  vectores de afirmação da DIFERENÇA impulsionadora de novos modos de VIDA (coexistências temporais dançarinas nos perfuram com  microperceções que se reintensificam sobre o rigor do estranho e as bifurcações de um tempo louco aglomerado por quereres na vontade da complexidão do mundo: dizem: sair do cansaço através do inconsciente de umas RAIAS por vir em de-composição ANÓMALA incompleta, imperfeita porque nunca classifica).

As RAIAS fazem do falhanço alegre uma tragicidade exultada por meio da loucura afectiva, dos atractores estranhos que não comunicam, nem descrevem, vivem em recomeços vibráteis contínuos, em repercussões de passagem, em campos intrusos de aprendizagem porque estão fora de qualquer força reactiva-psicológica: acontecer nas forças sígnicas em decifração ininterrupta: as RAIAS são campos de batalha imanentes à natureza onde se entrecruzam forças invisíveis e invisíveis por dentro da exorbitância da sofisticação sem finalidades porque o intensivo não tem desígnios. A singularidade expressiva das RAIAS está na força do anómalo que se revigora em tudo o que não aconteceu. As RAIAS desviam-se dos algoritmos da normalidade, assimilam o aberrante com a vidência que desfaz a curvatura do tempo cronológico: eis a exaltação do impensável aliadas às forças paradoxais descendentes da duração   dos saltos de desejos aformais. As RAIAS experimentam as potências de diagramas insaturáveis, experimentam radicalmente a existência dentro do insatisfazível intuitivo e de infinitos em cada visão-olhante. RAIAS assumem a sua própria liberdade ao acelerarem seus heterónimos nos processos ontológicos por meio do espírito dionisíaco. RAIAS transmudam a incompletude, entrecruzam conceitos intermitentes, subvertem as identidades por meio da sedução polimórfica das ruínas da língua materna: quem somos nós nos jogos rítmicos de espelhamentos ínferos, nos avessos friccionados pelos magnetismos do impensável e do caótico? Como acontecemos nas linhas dos afectos do inconsciente que nunca se actualizam e invadem as singularidades? Como nos envolver na reintensificação do comum autopoiético pleno de retornos de instantes duráveis e de entretempos que nos diferenciam? Sim, sentir as fendas desterritorializadoras que potencializam a interrelacionalidade filosófica composta por heterogéneos onde os pensamentos sem destino e as singularidades transfronteiriças das línguas-sem-repouso  contaminam-se pelo diverso germinativo das cartografias de tempos clandestinos: há  inscrições das correntezas pulsáteis que habitam o invisível dentro dos relâmpagos do acontecimento: são feixes de transversalidades afectivas, de emaranhamentos corporais a dobrarem as fragmentações espirituais dos encontros com uma guinada da visão intensificada entre os desejos do viver-crítico, as resistênciasmoventes de uma realidade autónoma, os conceitos em deslizamento e o excepcional anorgânico revelador de novos espaços de vida intensiva. Construir matérias expressivas, lógicas irracionais que atravessarão e fissurarão as verdades-verdadeiras, as homogeneizações que tentam prevalecer no mundo da agoridade.

 

 

RAIAS conectam-se a inconscientes moventes  na contemporaneidade do futuro e do passado em relação ao escoamento do acaso do  presente (entrecruzamentos de forças de natureza a multiplicarem as células do figural, as dismorfoses, tornando visível  uma pré-linguagem do imperceptível): RAIAS aproximam multiplicidades, problematizações, geografias, nomadismos, criando zonas de vozes singulares e de diferenças para enfrentarmos a consciência-julgadora-punidora, o consenso hegemónico: produzir tempo, cérebro, eternidade, corpo, espaço por meio da alegria do phaneron-cristalino da plenitude (devir-mundo com milhares de fendas do sensível geradoras de realidade): reinventar novos mundos no mundo, novas visivas de variações contínuas que nos retiram e colocam simultaneamente na natureza inédita: deslocar o eixo da terra através de almas contemplativas-larvares Beckettianas): estamos dentro da transposição vertiginosa das tendências éticas de uma memória-ontológica-futurível, dos fluxos do movimento da vida, recomeçando sempre numa filosofia incomensurável, tentando plantar rosas na barbárie e na loucura, a loucura que diz SIM às entradas múltiplas da vida, às energias da criação em devir do vazio, libertando-nos do encarceramento, do normativo, dos julgamentos, do tautológico, quebrando as couraças dos moralismos e do estrelismo fantasioso. RAIAS é um macaréu micropolítico, infindável do inconsciente: é o impensável inalgoritmizável, é uma mutação ininterrupta, é  a ciência das turbulências do acontecimento voltado para o que há-de vir. Assim, juntamente com académicos, artistas, pensadores, investigadores, críticos, professores, escritores e leitores experimentaremos transleituras, novos ritmos expressivos, línguas perfuradas por outros tensores incessantes das FALAS que captam permanentemente forças de vida em transitividade (uma ciranda afectiva sofre intervalos, repetições, transes, volteaduras, renascimentos, fluxos dos interstícios das linguagens que se esgaivam uns nos outros): oscilações sublimes da multiperceptividade caótica, germinando novos mundos com as quebraduras das flechas do tempo. Partilharemos também cirandas da paradoxalidade corporal que mergulham no pensamento da diferença ao inventar ritmicidades em imensas hipótesesdinâmicas, escarvando orifícios nas percepções por meio de ondas de intensidades inesperadas, de relações dinâmicas, de volteaduras agramaticais (mosaico de tempos a escavarem os ressaltos da língua com as reviravoltas de sensações e com os ecos das mutações da impossibilidade que lançam espelhamentos para a abertura errante de uma metamorfose, ampliando infinitamente  sentidos testemunhais). É com as permutações visionárias, com as experimentações infinitas da aprendizagem obscura e singular, é com os deslizamentos da vontade de confrontar criticamente, esteticamente os solos da homogeneização, da mercantilização, das significações totalitárias, da padronização que as RAIAS subvertem as versões do encontro, antecipam as coexistências das escritas-de-vida e a exigência de uma estética sem limites onde múltiplas sensações entrelaçadas e incontroláveis fazem ressonâncias nos acasos). Haja RAIAS sem estruturas históricas, sem cógitos intelectuais): haja fluxos criadores de voltagens sígnicas, simultaneidades das refregas cósmicas, paradoxalidades que raptam o avesso sonoro do mundo: dizem: roubos perceptivos que estetizam o acidental e  reinventam mundos em inúmeras possibilidades (afecções corporais para além dos limites: fazem durar as expressões que nos fazem delirar por meio do caos, da heteronímia e do impessoal: praticar a liberdade com o tempo das tramas artísticas e contra uma consciência julgadora):

 

RAIAS cartografam vestígios das línguas, des-montam brinquedos linguísticos com a veemência da primeira vez, desenham as magicaturas das semióticas das intensidades com a epiderme intersticial da potência afectiva, com o inconsciente lávico: sentir o vazamento do mundo das línguas dançantes não mensuráveis onde ninguém domina, nem pertence, porque somos atravessados por milhares de falas iniciantes sem dono, por desdobramentos atmosféricos invisíveis que nos fazem interromper estruturas, pensar dentro das multiplicidades, do inesperado, do imprevisível, transformar a história num ritmo de fracturas cronológicas ( atractores delirantes entre aprendizagens inventivas e o saber do corpo catalisador de experimentações problemáticas: RAIAS não têm cronologias nem narrativas da linearidade porque são atravessadas ininterruptamente por instantes imprevisíveis do indiscernível que nos fazem acontecer como artistas da própria-vida: nos efectuamos na composição-durável que absorve superfícies moventes das afectologias polimórficas): acontecer nas forças topológicas contaminadas pelos olharesolhantes de uma babel sonora e órfica, pela transmutação da alegria desejante, por isso RAIAS rompem realidades organizadas, procura incessantemente as palavras descodificadas, os ecos das palavras sem habitações fixas, as forças caóticas-mutantes, as forças intrusas sígnicas que nos fazem jogar com a fascinação do acaso, com as linhas compositivas de vizinhanças do sensível que se abrem ao corpo-olhar fugitivo das utilidades perceptivas: é o nomadismo aberto ao desconhecido, às qualidades da diferença que impulsionará a estranha iluminação das RAIAS nos mapas sem origem que jamais sustentarão a racionalização do entendimento, porque os movimentos estéticos envolvem-se nas vidências nos ritmos profanadores, excessivos e resistentes a qualquer tipo de poder ou a qualquer justaposição____haja RAIAS agitadoras de pontos de vista incontroláveis. Haja recriação de vida porque todo o acto-pensar é criativo, inventivo, transbordante. Pensar é sentir a diferença e buscar a heterogeneidade da RÉ-existência. O pensamento-RAIAS conquista tempo, experimenta a vida, modifica a relação com a vida. RAIAS assimilam ritornelos afectivos críticos por meio de combates de si-em-si, de tempos delirantes, de forças inexplicáveis criadoras de cérebros-larvares fora de razões psicológicas (a incomensurabilidade de estar dentro e fora simultaneamente, transfronteirando o mundo por meio de animais ritmáveis de sensações): RAIAS constroem lugares fabulatórios, lugares inexistentes com a estética do entre: pensar a espessura testemunhal do impensável entre memórias tatuadas pelo futuro das pariduras do acontecimento, criando uma zona de indiscernibilidade ou de entrecorte entre topologias da arte e os espaços não artísticos, resistindo ao niilismo da vidaorgânica. Intersectores de coreografias convulsivas entre ficção-real e as falhas intensificadoras de alfabetos nómadas de uma vida plena. O signo-RAIAS compõe relações de forças afirmadoras de vida no seu extremo. RAIAS são forças da insubordinação, forças acontecimentais-construtivistas, sempre a transbordarem, a turbilhonarem, a fulgurarem paradoxalmente porque não se submetem ao organismo-identitário, à servidão. RAIAS colocam em estado de emergência o binarismo do sensório-motor, escapam ao saber déspota, aos dualismos, mazdeísmos que vedam, esgotam o fluxo, o ritmo da criação e  da diferença (abrem rachaduras na fala por meio dos silêncios). RAIAS surgem nos esboços do pensamento anorgânico desterritorializador de rostos, por isso, estimulam a transvocalização das vozes, arrebentam percepções vividas, estraçalham o percepcionado para entrever, visionar acasos de experimentações políticas dentro e fora concomitantemente: RAIAS potencializam a crítica numa ondulação cerebral repleta de devires, exercitam o tempo-puro,  o pensamento em transmutação, variando sentidos entre forças abstractas-inventivas,  atravessam a língua sem essencialismos por meio de intensidades, embaralhando e destruindo códigos pré-estabelecidos, regras intrínsecas que monitoram os gestos do acontecimento: RAIAS devastam territórios discursivos congelados, sedentários com o sublime uma política ética-estética catapultadora da impessoalidade, do acósmico, do háptico, das potências do ilegível, assim, questionam interpretações, abalam o mundo sensível, destroem os entorpecimentos dos sentidos, rupturam formulações instauradas, dialogam com a vida-criativa, emancipam vida, fazem vida, fazem escolhas, suspendem, interrompem, fracturam estruturas deterministas, misturam devires sensíveis, incitam o pensamento a pensar por dentro do inesperado e do imprevisível, transformam a biografia num ritmo de histórias fracturadas, desviam as configurações de assimilar o mundo, mergulham no processo transcartográfico sem relativismos, mas com uma miríade de ressonâncias afectivas-olhantes, quebrando o prolongamento da percepção cartesiana:

 

as RAIAS despedaçam singularmente os horizontes porque não absorvem as verdades instituídas: as RAIAS com os seus signos malditos, com as suas máquinas germinadoras, perturbam a quietude dos cabotinos, as normoses dos donos do poder por meio das intensidades geofilosóficas, das cumplicidades vibratórias da fabulação-dos-esboços que conectam o virtual com o actual onde linhas intersectoras fazem da matéria em movimento um devir em potência, é o ritornelo ressoante, é a memória-futuração, é o paradoxal da natureza: um prisma-RAIAS misturador do dentro e do fora cria intersecções de forças semióticas que respondem ritmadamente ao caos entre a complexão de contrastes heteronímicos e arremessos de dados problemáticos: RAIAS fazem da ficção um modo de reexistência, de invenção de novas e vigorosas formas-aformais de vida, tensionam os arcos de ser estrangeiro dentro do impossível da própria língua: RAIAS libertam a vida do aprisionamento racionalizador-totalizador, das cavernas neuróticas, das verticalidades afuniladoras: absorver o desejo inovador, insubmisso, desdobrado em si-mesmo: sentir a epiderme da revolta subtil, sentir que o pensamento não admite o centro, nem a unidade porque suas forças precisam trilhar sentidos sem significação, bosquejar acontecimentos dilatados, esboçar deserticamente, nauticamente, o mundo demoníaco: sentir que o afecto é o recomeço sígnico das transmutações de pontos de potência do mundo: o afecto das RAIAS religa-se aos feiticeiros da natureza.

RAIAS despontam atravessadas pela potência de sensações de entre-dois, inventam campos problemáticos e refazem intensivamente o pensamento que é vida a combater o entretimento do cretinismo, o infantilismo e a fragilização da linguagem (RAIAS são ritmos involuntários que nos fazem acontecer intuitivamente). RAIAS fazem-se de enxurradas de sensações irrefreáveis, de topologias de passagem sem finalidades: dizem: forças dos sismógrafos do insituável porque no mergulho OCEÂNICO das RAIAS sentimos a pluralização do caológico, a multiplicação de matrizes, as tessituras esfíngicas que experimentam o corpo na sua própria dimensão babelesca porque o caos das RAIAS não é desordem, é uma força das singularidades que nos levam à experimentação de luz excessiva, à extrema lucidez, às energias supremas do inacabado das perguntas-artistas, à paradoxalidade que tangencia o indizível, esculpindo o olhar do vazio-inventivo que observa, contempla, rasga polifonicamente antes de ler, afectado por energias não mensuráveis: o recomeço das RAIAS caotiza e desfaz no incomensurável a erudição e a percepção porque os seus ritmos delirantes actuam simultaneamente em várias superfícies flutuadoras, em várias geografias cristalinas, conjugando todas as artes que perfuram a memória-mundo, a memória-futuração onde o sujeito e objecto se destronam e se descentram entre micromovimentos de linhas afectivas (com as RAIAS somos atraídos para fora de nós-mesmos, no qual se verifica a escultura geometral da vida, do tempo-puro-geográfico: mutações coexistem com outras mutações: i-emergem correlações e o mundo mundifica, nada é objecto, tudo é inobjectivável porque os atravessamentos sígnicos dançam no instigantíssimo processo IBERO AFRO AMERICANO entrecortado por movimentos vertiginosos descentrados: nas RAIAS há forças capazes de pensarem permanentemente, de mergulharem no caos, de vencerem o caos através de metamorfoses contínuas, capturando os agenciamentos dos heterogéneos…o que implica sempre um devir entre correntezas do impossível e os sensíveis dos sensíveis do real virtual da vida (evitar as sentenças da consciência arrolada em apenhoramentos espirituais). RAIAS advêm das violências silenciosas do imperceptível que nos mostram novas maneiras de existir, ultrapassando formas canónicas das ditas culturas apinhadas de logicidades e de referências: haja o disfuncional da osmose, da atracção, da contaminação, porque não há movimentos separados, há uma escritura infinita, há linhas de tempo, há um infinito jogo de deslocamentos a transversalizarem sentidos, não há unificação, nem imo, mas transcodificações, há anorgânicas transducções, há diferenças sem sujeito e ressingularizações que dilaceraram, rupturaram entendimentos deterministas.

 

RAIAS, ao transbordarem o jogo do domínio das margens, evadem-se simultaneamente e desvendam o figural do mundo: corpos-vivos, línguas anárquicas, constelações semióticas dos corpos que experimentam a inesgotabilidade do real, emancipam-se, misturam-se com o mundo-desejante (rascunhos de línguas): RAIAS criam, afectam caleidoscopicamente, NÃO há uma língua-mãe, nem uma língua-pátria, estamos perante a LINGUA-MUNDO ressuscitada entre línguas porque o texto da arte-mundo é o texto da vida que busca o inacessível, é um traço do passado em futuração, um catalisador estético que escuta o infinito, um receptáculo ético que apreende, esculpe e escarça, rasga o tecido da palavra num combate ininterrupto, faz reaparecer a língua na fascinação da entrada do despenhadeiro, no pensamento em revolta: dizem: excriptas que transvazam acentradamente o mundo, ficcionam o real, caotizam o caos por meio de jorros de sensações, de multiplicidades que nos transportam para o pensamento impensável (eis, a FORÇA MAIOR DA VIDA: abrir-se ao aberto).

 

 

RAIAS faz-nos estar sempre des-focados naquilo que podemos sentir como ARTE-PENSAMENTO entre uma miríade de saberes-moventes-interrogativos, de não saberes e de golpeaduras das diferenças: RAIAS faz-nos auscultar as transducções do mundo que constroem afectos: intensificação das singularidades entre os DESEJOS estéticos, as dobraduras sígnicas, as redes intersemióticas, os abismos neurológicos, as matemáticas criativas, as velocidades-lentas, os rastos das hibridizações…estamos dentro do ritmo vasculhador da germinação dos cios das deslocações geográficas porque, RAIAS nunca serão obras, mas, temporalidades paradoxais, PROCESSOS CONTAGIANTES de ritornelos, de zonas irradiantes-aformais, de alfabetos agramaticais, de línguas estranhas dentro de uma língua escorregadia (cristal-sonoro-do-tempo do artista-escritor em fugas permanentes): com as RAIAS copulamos imensas línguas do inumano do humano, abrimo-nos às forças transmutantes da NATUREZA, resistimos, reexistimos e exploramos arquipélagos inabitados, despovoados.

 

 

RAIAS acontecem num poema lenhador de caos, contaminador e transmutador do caos, não explica nem representa o caos, perfura-o orficamente, produzindo encontros e intensidades afectivas adentro da loucura do inacabado feito de choques vertiginosos, de vestígios imperceptíveis, somos trespassados por sensações desorientadas, enfrentamos o estranho, o estrangeiro, o exílio, absorvendo uma língua nómada, que está sempre por vir: bosquejar espaços com um devir desarranjado que diz-desdizendo escoriando a língua com fluxos fabulatórios, com esfinges mumurantes, com verbos em desaparição: eis a sedução do apavoramento linguístico-balbuciante que nos leva para o subversivo enigmático, sem respostas, cauterizando a matéria, assim, seremos dobrados de imensas maneiras, urdiremos dilemas semantúrgicos incomensuráveis, cartografamos interferências geodésicas, gaguejamos nas intersecções repulsadas, aconteceremos soberanamente no corpo hipnóticojazzístico das medusas labirínticas: o processo das RAIAS é uma ventilação obscura que perfura o colosso inamanipulável da língua, transformando-nos permanentemente num estrangeiro-órfico, FAZENDO do leitor-artista uma absorção do absoluto nómada entre a aisthésis cósmica e as forças enciclopédicas: devires de micromovimentos incomensuráveis: cartografias do desconhecido fora das extremidades corporais, feixes de forças autopoiéticas que nos forçam a pensar na rasgadura do real, abrindo as alteridades dos olhares às transfronteiras do mundo: transvocalizar vozes, escutas para dizerem sim à insânia da VIDA, à estranheza que atravessa o outro.

RAIAS FAZ-NOS perspectivar singularmente o mundo ao redobrar o pensamento no MACARÉU que se desalinha no impensável, no “de-FORA”: RAIAS faz-nos mesclar, criar pontos de vista, mónadas intensivas, com o invisível real do mundo porque não comunicam, nem descrevem, nem informam, mas problematizam por meio das forças subtis dos signos que tornam vivas as sensações das aprendizagens onde os tempos se convergem a um só recomeço por meio de afecções em decifração contínua: é uma correnteza de VIDA com infinitas variações ritmáveis presentificadas na duração que se apropria do rodopiar das vozes dançantes, de todas as artes, de todas as ciências, de acasos dos encontros para retraçarem os corpos com os vitraia do inacessível, fracturando a recognição dentro da instabilidade das superfícies multiformes (experimentações críticas se ligam abismadamente): sentidos lisos-sonoros, linhas do acontecimento infinitizam metamorfoses, obscuridades incicatrizáveis das tonalidades da memória, do espanto, do drama, do transe, do êxtase, construindo tensões nos olhares-corporais com os labirintos imanentes da vida, com o nomadismo acústico, sedutor (desastre-regenerativo-das-travessias rasgadoras de bolhas, sentir as enciclopédias móbiles fora das significações) assim, os itinerários são destruídos e reconstruídos com os jogos de escutas e de capturas das possibilidades de futuro, com os resvalamentos sígnicos heterogéneos, com as esfinges moventes onde o magnetismo da estranheza reconstrói a cosmicidade indeterminada por meio da experimentação estética do cântico do mundo, da experimentação do grito que nos transforma numa voz de muitas vozes (sempre nas RAIAS de todos os mapas rizosféricos).

O LEITOR das RAIAS nunca é um, mas é em si uma multidão em reviravolta, um incessante fluxo em espiral sempre acrescida de novas experimentações, de novos pensamentos: é um navegador musical das extremidades da língua, é feito de intensidades andarilhadas, de trapezistas das fracturas espélhicas do mundo, de sensibilidades desconhecidas, de infinitudes caleidoscópicas, de saltos plenos enfeitiçados pelo estilo dos alfabetos nómadas, pelo charme do enviesado, das misturações hápticas que fazem do corpo uma ondulação repleta de devires. O corpo metamórfico do leitor das RAIAS se deforma em vizinhanças turbulentas, em fendas ininterruptas da tragicidade que o faz durar por dentro de descidas-subidas SISIFIANAS (escavações medulares, em relações mutantes): o LEITOR das RAIAS se trespassa e se impulsiona por meio de dobras variadas, de mosaicos resplandecentes porque o seu corpo se constitui entre campos magnéticos e os campos problemáticos de uma planície siberiana, concentrando-se e se expandindo simultaneamente ao ver o imperceptível, ao auscultar o insonoro, ao tactear o intocável: um LEITOR escavador da língua dentro do silêncio do mundo, sentindo o mistério verbal, a transvocalidade da multidão metamórfica porque procura os acasos secretores de tempo, abre-se aos lances do imprevisível por meio da estética da REDOBRA, de imagens delirantes. Ele faz da reacção das úlceras da língua um esboço cartográfico de conexões, de encontros incomenuráveis, de interferências, de contaminações em permanente desafio, faz da tatuagem da memória corporal um “cristal sonoro do anómalo”, uma errância do tempo puro, uma navegação do inacabado, uma dança infinita feita de várias correntezas de signos onde o deslocamento das memórias-mundo, das memórias-futuríveis, das memórias vadias são já corpos mergulhados em galopes sígnicos interrogativos, em personagens rítmicos, em sombras expressionistas-polimórficas, violentamente paradoxais, desviando gestos adentro do inesperado, instaurando o caos, multiplicando o caos, o entre-caos, sacudindo assombrações para activar simulacros entre traços selváticos-disjuntivos e desvios cronológicos (a experimentação das imagens-tempo dentro das ruínas). O LEITOR das RAIAS é um passado presentificado pelas esculturas móveis do futuro exaltado pelas forças intensivas do pensamento (eis a cosmicidade bruxuleante, fabuladora, que faz do nosso cérebro uma multidão semiótica do corpo-mundo: um mundo desejante de um corpo-de-dicionários-vivos que experimenta outros corpos avassaladores, intensos, indomáveis, um corpo que transgeografa sensações, pontilha transfronteiras com o inexplorado e o estranho, enfrentando as decifrações em devir, porque o acto mais revolucionário e mais subversivo é o SENTIR como nos disse Rancière). Com as RAIAS sentimos o mundo expressivo onde o EU-realista e as histórias pessoais são evitadas para que tudo retorne, reemerja e estimule as afecções num complexo de possíveis porque o ritornelo das RAIAS desbrava o caos, mergulha em superfícies sem fundo, experimenta as partículas do transbarroco com tremores sensoriais, estamos dentro do espanto do incomensurável, da extrema lucidez que tangencia a fulguração epidérmica, as ressonâncias afectivas, os desdobramentos dos ritmos IBERO AFRO AMERICANOS___ser atravessado por singularidades estéticas-fractais, sim, RAIAS exigem uma ESTÉTICA de VIDA porque a vitalidade do pensamento não está na representação, nem nas identidades, nem nos hábitos, mas na fricção com o novo em relações variáveis, com aquilo que não existe, com o indecifrável: os corpos afectam-se pelas superfícies turbilhonantes das RAIAS:

 

os corpos atravessam, cruzam os limites, compondo forças suspensas no vazio em diferenciação, intersectando e perfurando obstáculos porque sentem a complexidão do mundo, os ritmos germinativos, fazendo do acontecimento as policromias estéticas do inidentificável, do indistinguível e do inconhecível (INTENSA ritmicidade das cartografias múltiplas do pensamento). As RAIAS agenciam diferentes pensamentos, produzem tempos diferentes, esculpem ontologicamente o tempo no caos, vibram nas forças singulares, agem com várias potências do corpo, com várias potências da natureza, com várias potências da vida, com vários conflitos que exigem recomeços porque captam uma dispersão de vozes nos espaços não mensuráveis por meio da intensidade das expressões, dos devires imperceptíveis, do real problemático que ataca o pensamento e que nos força a pensar dentro da vertigem da aceleração e da retardança e perante o arrastamento de todas as relações-artistas num plano de imanência, ou seja, as transcodificações do mapa do mundo, do mapa cósmico regressam permanentemente ao corpo, colocando-o suspensivo, interrogante entre a expansão dos entrecruzamentos das vozes dos povos-acontecimentais e as lentidões-velozes-infinitas-transleitoras das rupturas do mundo (eliminar as forças reactivas com os esboços do geometral, da matéria anónima e do figural: deslizamento-acontecimental). Esculpir-absorver-atravessar as RAIAS é pensar no escorregadiço, na invaginação do impossível, nas alucinantes manchas expressionistas, na fenda de um caos que caotiza e que nos transporta para grandezas movediças, destruidoras das normoses anestesiantes da vida. É a estética da redobra em avalanche, é o resultado de todos os jogos de forças, dos mundos possíveis, das micropercepções inconscientes proustianas, das expressões envolvidas noutras expressões, dos espelhos quebrados da palavra que chamam a luz turbilhonante da matéria-olhante para despedaçar as suas extensões (quebrar os códigos da rostificação): RAIAS arremessam olhares osciladores entre o perceptível e o imperceptível porque tentam extrair as qualidades intensivas das intersecções rizomáticas: arrancam bordas estéticas aos acontecimentos, forçando-nos a abocanhar o desconhecido, a dizer o intraduzível, a torcer-espremer a língua, levando-a ao delírio, perante o excesso do mundo:

RAIAS nos fazem ver o que não pode ser visto. (relembrando José Gil). RAIAS vitaliza-nos a vida sem intencionalidades, confirma-nos a existência fora das compensações, faz sobressair a sublimidade dos encontros entre possíveis releituras, pensamentos impensáveis, esponjas acósmicas: RAIAS faz de nós um ritmo das multiespécies intensificadoras da vida fasciculada. RAIAS criam, bosquejam, exploram os interstícios das cartografias imanentes do pensamento, entranham as traçaduras alegóricas, as tessituras epifânicas, geram gagueira nos aglomerados acontecimentais por meio de forças afectivas-vibráteis, desequilibrando as linguagens porque estão carregadas de disjunções, de diferenças embaralhadoras de códigos, de irrigações cósmicas, de intermezzos das forças primordiais: correntezas dionisíacas arrastam o pensamento para o delírio-abdutor, para fora do hábito-linguístico através do ritmo criativo da visageidade absoluta onde a vida não fala mas escuta o silêncio do mundo, aguarda as vozes-do-mundo perfuradoras do inconsciente. RAIAS escrevem-se com todos os tempos simultaneamente, tudo converge numa duração em quedas horizontais, expansivas, captando uma dispersão de vozes dobradas de infinitas maneiras: RAIAS não rastreiam, não escoltam os vaticinadores-dialécticos, nem os preceptores, nem comentaristas, nem os espaços das opiniões do poder, nem as cartilhas do já-dito produtor de estrangulamentos do impensável: RAIAS abrem-se ao mundo sem significações porque são múltiplas potências de corpos-histéricos e se desdobram diferentemente num saber órfico-monádico, num processo migratório-extremado, numa máquina de produzir experimentações alógicas: há ulcerações sígnicas do incorporal, forçando a linguagem ao seu limite recreativo. RAIAS deslizam com todas as línguas, acompanham as vozes solitárias do mundo, acompanham uma voz estrangeira-ostracizada que perfurou o mundo com os riscos superiores da vida para se adentrar na correnteza in-sonora dos corpos que se recortam metamorficamente por meio de forças espirituais impulsionadoras de instantes inventivos, assim, tornamo-nos num fragmento das várias línguas em dimensões fugitivas, não mensuráveis, enfrentando caminhos labirínticos, transversalidades, vizinhanças dos signos do indiscernível, porque ao navegarmos e mergulharmos no MARALTO das RAIAS sentimos turbulências dos processos criativos, dançamos nas musicalidades simultâneas da crítica, somos inundados por rotas não trilhadas, ultrapassamos os reflexos rostificadores do mundo, pressentimos a relação do colosso com a língua poética, com as artes como uma interrupção de um dizer insubordinado às verdades instituídas e preestabelecidas, sim, lançamo-nos na perturbação das tremendas visageidades, arrastamo-nos em todas as relações, questionamos interpretações, rupturamos formulações fundadas, fazemos do corpo o mapa molecularizado e imanente do mundo, o mapa cósmico das aprendizagens-inventivas e dos pontos de vista-pulsáteis. Por meio das RAIAS transformámo-nos numa esponja de decifrações sígnicas, sim, estamos no ACONTECIMENTO que absorve, capta, assimila, transmuta as auscultações matéricas em música do mundo, faz coexistências de visibilidades intersticiais, refaz as multidimensionalidades activas, refaz os sentidos cósmicos, mostra as suas forças afectivas nos campos problemáticos que atacaram e atacam permanentemente o pensamento e nos forçam a criar e a navegar no acaso onde o infinito se adentra:

RAIAS faz-nos esperar respostas impossíveis nas imagens em movimento, é um animal da estética do improvável, é a expressão das expressões, expressão viva, voltada para si e sobre si devorando mundos sem instrumentos designativos, colocando o leitor-artista fora de si num movimento suspensivo, interrogante dentro da vertigem da aceleração e do retardamento em simultâneo (horizonte chegante de partículas abstractas): estamos perante a expansão dos entrecruzamentos das vozes dos povos-por-acontecer que traduzem os arquipélagos moventes do mundo, absorvem o estilhaçamento do mundo e nos arremessa para o abismo do silêncio do mundo, multiplicando as matrizes dos olhares porque nunca asseveram o cristal absoluto, nunca se materializam diametralmente, nunca se fecham na completude, não assoalham e não camuflam, transbordam fronteiras, ALVOS, vivem na e da imanência, provocam o ressurgimento de uma LÍNGUA-NÓMADA por meio de interrupções, de fluxos pervagadores de outros fluxos, de aberturas-do-caos-irisado: deixam vazar permanentemente a afirmação da metamorfose intensiva. Entre as dobras de pensamento realizámos TRANSLEITURAS-metamórficas, transcodificando e improvisando as cartografias-do-poema com novos campos de experimentação CIBRIDA-olhante-anorgânica-alógica-musical-intertextual (ritmos ondulatórios em transcriação contínua): com as RAIAS deixamo-nos afectar pelos movimentos imprevisíveis das linguagens verbais e não verbais, buscando o subtil dos estilhaçamentos das fissuras sígnicas, o inacessível vertiginoso, as contracturas sinestésicas nas desecritas dançantes do pensamento, a intensidade das simultaneidades indetermináveis, as permutações esfíngicas, as margens eruptivas-problematizadas, as flexibilidades sinergéticas do texto-intensificado que se desdobra em desterritorializações indecifráveis ( interpenetração dos instantes que agenciam fendas sem classificações): deslizamentos dos sentidos-phaneroscópicos, redobras das sensações, potência dos desregramentos criativos, singularidades e multiplicidades de uma língua sem tempo, uma língua errante, uma língua de gestações insondáveis, uma língua de superfícies multiformes, transmutadora e destruidora de itinerários. TRANSLER concomitantemente com os curto-circuitos das sensações dentro das impossibilidades e das distribuições nómadas-ondulatórias do inesperável: não reler sobre a vida mas sim viver a arte regeneradora da vida dentro de planos geográficos que rompem o acontecido com acasos existenciais): produzir riscos sedutores, dilacerar o sedentarismo reinante das leituras pré-concebidas, nutrir as forças do difícil ecoante e da afectuosidade emancipadora do animal-texto-ritmável que nos leva para a incerteza ininterrupta, para o inclassificável, para o fazer-pensar ético-estético, eliminando as normoses, a padronização, os determinismos, a logicização: vejam, o desassossego crítico-criativo num tempo sem datas, nos silêncios tipográficos-cibernéticos que carregam os rumores do insondado sem saída nem chegada, reinaugurando a vertigem sacralizadora-fertilizadora do olhar perdido do-no mundo: a vastidão do inabordável traçará novas composições de infinitas imagens expansivas, embaralhando códigos com falhas multivocálicas, heteronímicas: acelerações dos devires onde a fractura inumana-do-humano-animalizante-multiespécie esculpe as suas forças hápticas entre as incisuras espectrais-polinervadas, as transduções heterogéneas repletas de estímulos e fluxos intermináveis: sedução da errância permanente dentro de um alfabeto a-gramatical descaracterizador das geografias poemáticas: experimentar o espanto do isocronismo da catástrofe-regeneração-polirrítmica do corpo-texto como acontecimento e multiplicidade de outros corpos-textos-em-mutação: plasticidade intervisual nas performances turbilhonantes onde as encruzilhadas do irrepresentável impulsionam descentramentos nas leituras, nas zonas impetuosas de olhares que jamais alcançarão a visibilidade completa: dizem: polimorfias pré-semióticas-piroclásticas-lávicas sem coordenadas: condensações de ressonâncias fora dos limites da inteligibilidade: TRANSLER com o grau máximo de lucidez de falas inarticuladas dentro de um mosaico afectivo e transmutador de materiais, absorvendo partículas semióticas desviadas da designação:

projectar fragmentos estranhos, vazadores de geometrais: TRANSLER com sopros piroclásticos nos limiares dos RITMOS que envolvem as sensações nas vozes anamórficas entre ex-criptas inobjectiváveis, fragmentos múltiplos e flutuações labirínticas: TRANSLER para ventilar o esquecimento com as teceduras e as magnetizações das lacunas onde os textos se reconstroem para além das RAIAS: TRANSLER com o crivo das membranas inesperadas do corpo-arquimediano, recuperando as forças estéticas-incorpóreas do mundo: há entrelaçamentos impensados-paradoxais do texto porque as mudanças vertiginosas assimilam as vazaduras das serendipitias cibernéticas, os movimentos das transpoesias, as progressões delirantes-geométricas-aritméticas, as matemáticas combinatórias, as sinergias-labirínticas os interfaces, das esferizações, as anamorfoses, das translações dimensionais, as simultaneidades das virtualizações, as dobraduras das redes intersemióticas, os abismos neurológicos das hibridizações, as experimentações da impossibilidade e das errâncias que abrem o corpo-crítico às forças testemunhais, reactualizando o passado por meio do presente em direcção às línguas gaguejadas por dentro de metamorfoses futuríveis (um DOM que vaza o mundo): a perplexidade relacional das derivas sígnicas, das ressonâncias verbalizantes e não verbalizantes, buscam romper as exactidões organizadas por meio de alfabetos escorregadios, de forças alvéolares, das escarificações do caos, de línguas sem pátria em variações infinitesimais: é o nomadismo singularmente múltiplo e de extrema lucidez que faz das RAIAS uma força de pluralização de sentidos que nos fazem sair ininterruptamente das trilhas, dos eixos para capturar, reaver-mundo nos lances do acaso, resistindo a qualquer tipo de poder. O pensamento, como o frevo e o maracatu, não comporta centro nem unidade, não convida, arrasta-nos, transportam-nos para o mundo-dos-mundos da razão ardente afectada por diferentes formas de vida, pelas línguas dançantes. Entre semióticas mutantes em holomovimento, as RAIAS reinventam conceitos dentro de visões ondulatórias, de dobraduras sígnicas que nos desviam e nos situam simultaneamente no mundo dos mundos: sentiremos o fascínio da transposição do tempo puro, do tempo sem movimento que nos liberta do encarceramento das verdades, do normativo, do tautológico. As RAIAS capturam as transgeografias afectivas, os desvios do tempo-larvar, as fendas ultrapassadoras de consciências, as aprendizagens inventivas dos curto-circuitos das sensações que nos perfuram, nos atravessam durante o processo de escrever e ler simultaneamente. Não escrever sobre a vida, mas sim, viver a arte da vida dentro de riscos sedutores, criando concomitantemente reaparições, retornos, recomeços, fugas acopladas em zonas de entrepausas da visão do não-vivido-vivido e dos arrancos dionisíacos: é na plasticidade de golpes topológicos que sentiremos a avalanche das composições éticas-estéticas por meio de falas in-decifráveis e de contra-significações, intercalando memórias-mundo com as cartografias vazadoras de múltiplas ressonâncias intervalares do que-há-de-vir: aqui-agora, rasgaremos as doxas reinantes, nutriremos as forças das expressões de um dizer-desdizente, emancipador de vida que nos leva para a interrogação contínua, para o inclassificável, para o saber órfão, nómada, rascunhado, transposto por desertos eliminadores de “interpretoses classificadoras” porque não há literatura, há escritas trespassadas, escarificadas com todos os tempos que convergem numa partitura de ritornelos afectivos: bifurcações fundidoras de excriptas e ex-critas produzindo lugares nos intervalos do tempo: deslizar intensamente na correnteza das renascenças espiraladas, suspensas onde os corpos-hápticos entre coexistências de visibilidades intersticiais, de multidimensionalidades activas se recortam metamorficamente, refazendo o vaivém da cosmicidade indeterminada das palavras: pensar em risco, intensificar o desejo, questionar as interpretações, abalar o sensível, misturar fronteiras estéticas, campos problemáticos, atravessar heterogeneidades imanentes, transvocalizações do mundo, vizindades das incomensuráveis adivinhações fundidoras da matéria-espiritual: zonas movíveis combinam fluxos desterritorializados com potências afirmativas da transmutação delirante para evitar que a consciência tome conta. Espaços fragmentários, estriados-lisos, geradores de laços vivos de forças acontecimentais e de movimentos paradoxais, desmoronam hierarquias, representações totalizadoras porque as metamorfoses intensivas envolvem fulgurantemente as potências responsáveis pelo pensamento rupturador, ultrapassador de razões puras, de essencialismos, subvertendo as identidades, seduzindo as ruínas da língua materna. O signo-RAIAS compõe relações de forças, joga dados, povoa o invisível, presentifica o mundo antes do seu surgimento, faz reaparecer inexistências numa coreografia de forças que potencializam os afectos nos movimentos da sua des-aparição: há uma relação corpo a corpo com as forças desidentificadoras do mundo: substituir a interpretação significativa pela experimentação de forças que roubam o acaso para se adentrarem na inquietação do real, nas germinações dos sentidos, nas invaginações topológicas, nos ricochetes do tempo puro que fazem das quedas, das distâncias, das elevações-hápticas, doa vazios, das distâncias, danças de solos indecifráveis, assintaxias perfuradoras das vozes que se arremessam contra os gritos da matéria musicada pelas forças espirituais: religar a lógica das sensações com a vocação sintomatológica e a irrigação cósmica-verbal-geodésica. RAIAS advêm nas obliquidades sensórias, nas tecelagens esfiadas, nas polimorfias da percepção imperceptível, nas presenças evasivas, nas correntezas abismadas, nos paradoxos repletos de coexistências, tentando desvelar o invisível no visível entre hemorragias sígnicas e as intermitências dos vazios onde objecto e sujeito se destronam num mundo fabular. RAIAS resistem à morte, resistem a tudo que impulsiona a morte: um ARTISTA-RAIAS dá voz às intensidades que retornam por meio da recriação ética do impensável onde cada visão é atravessada por vidas singularmente absolutas.

SENTIR RAIAS é experimentar transversalmente, compulsivamente, impulsivamente as golpeaduras do caos, é problematizar por meio de forças de signos avassaladores, de variações histéricas-afectivas que nos forçam a assimilar a diferença tangenciadora do infinito, a heterogeneidade ritmável criadora: construir afectos imprevisíveis, experimentar o tempo das indiscernibilidades e de indecifrabilidades que excedem nossos espaços sensório-motores, FORTALECENDO o criativo-improvável porque nos faz abrir e nos afectar amplamente pelas forças intensivas do mundo (recomeçar perpetuamente no irrecomeçável, absorver as tessituras do interior do corpo por meio de monadologias do animal órfico de infinitas tonalidades): retirar o corpo dos sistemas fechados, dos modelos encarceradores, do “civilizatório tirocínio” que avança calculisticamnete ao serviço da razão determinista, da consciência sentenciadora, das classificações, das formas. HAJA RAIAS, haja cartografias intempestivas, turbulentas, plissadas, labirínticas, anorgânicas____ANDAR-NAS-RAIAS, no intermezzo, no entredois: tornar visível o indizível dentro do intraduzível. Haja cirandas estéticas-éticas-hápticas. Haja potências de pensamento e potências do impensado. Haja intensidades, experimentações e acontecimentos críticos. Haja paradoxalidades, contágios-fluxos das diferenças, haja alegria dos encontros, composições afectivas. Haja tempo puro, conexões-desejantes, dobras aberrantes, heterogeneidades. Haja línguas analfabetas-agramaticais e antropologicamente abertas ao insituável e ao imperceptível. Haja inconsciências, afectologias, complexidades, problematizações, transgeografias, cartografias afectivas. Haja sensações irreconhecíveis, haja coexistências de loucuras que dizem SIM ao incerto da vida. Haja forças singulares, alógicas, aformais: haja corpos indomáveis. Haja devires, espaços lisos. É urgente perdermo-nos nos lances dos acasos plenos de paradoxos, de voltagens irruptivas, de partículas virtuais, de vazios rítmicos (atravessamentos mutantes do manguezal).

 

 

 

Luís de Serguilha nasceu em Portugal e, nos últimos anos, percorreu algumas geografias da América do Sul. É poeta, ensaísta e curador de arte ibero afro americana. Kalahari, Plantar rosas na barbárie, Falar é morder uma epidemia, os esgrimistas dos Á-peiron e a ACTRIZ a ACTRIZ – o palco do esquecimento e do vazio são os títulos dos seus livros mais recentes. Os seus ensaioscriativos envolvem os atractores estranhos que atravessam corpo-artepensamento-poesia. Radicado no Recife, criou a estética baptizada como Laharsismo, estudada em Universidades. Recebeu o prémio Hermilo Borba Filho de Literatura.

 

Márcia Charnizon é brasileira, fotógrafa/artista visual. Envolve as forças afeCtivas-expressivas-rítmicas nas composições fotográficas. Caça às Palavras e Centennials – Fluxos e Ruínas, um encontro entre gerações, são seus projetos mais recentes. Recebeu XIII Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia com o livro Memorabília da Casa do Azevedo. Vive e trabalha em Belo Horizonte.

 

 

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